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Crónicas Recentes

Hoje é dia da Mãe.
Hoje é o dia do Trabalhador. 
A ironia de vivermos numa realidade em que temos de "trabalhar como se não fôssemos mães, e sermos mães como se não trabalhassemos".
Falemos, então, de tabus modernos:
Falar de sexo, é tabu?
Falar de prazer, é tabu?
Falar de política ou religião, é tabu? 
Desde que fui mãe, e me tornei mais uma entre tantas, descobri que o nosso maior tabu é este:
Falar de condições de trabalho. 
O facto de estarmos a dezenas de anos de poder alcançar a equidade salarial é contexto para discutirmos este tema? 
Não, porque é desconfortável. 
Falar de horários reduzidos é uma afronta aos colegas. Falar de tempos de licença é julgamento na certa. Falar de horários flexíveis é um abuso porque não pensamos nos colegas e somos egoístas. 
Porque continuamos ,logicamente, a faltar mais para ficarmos com crias doentes porque continuamos a receber menos (se nosso dia vale menos, a falta reflete-se menos nos rendimentos de um casal). 
Falar da realidade materna (em especial da maternidade de bebés e crias pequenas) é abrir o tema para sermos lembradas que o patronato é injustiçado quando exigimos direitos e que ousar fazer cumprir esses direitos é uma afronta para o n° de indivíduos contratados pelo patronato (que, por algum motivo, não pode ser alterado só porque alguém quer reivindicar direitos seus garantidos por lei). 
Não quero ser de intrigas mas tenho para mim que se nos juntassemos nestas ideias e se nos fizéssemos representar num coletivo que zelasse pelos nossos direitos e que procurasse fazer cumprir as leis que nos protegem e regulam as condições de trabalho, talvez nos fizéssemos ouvir e conseguissemos negociar melhor com as entidades patronais... Digo eu, assim de repente. 
Ah esperem.. 

Que 1° de Maio nos lembre que não somos só funcionários. 
Somos pessoas que querem e que procuram um sítio melhor com coragem para desconstruir um sistema que não nos serve em justiça. 
Sempre. 

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Lentamente vou reconhecendo a força que me empurra para a Primavera. 

Este Inverno levou-me ao frio que congela e cristalizou-me nas memórias de amor e conforto de quem já não conhecerá o virar desta estação. 

Mas esta força que rebenta com e pela vida é maravilhosamente implacável, e a esperança seduz iluminada pelo sol, e pelo riso de quem vira com alegria e entusiasmo a primavera da sua vida. 

Entre a memória do inverno e o convite da primavera, sinto as mãos nos ombros de quem permanecerá atrás de mim para sempre e as mãozinhas que me puxam para ver as flores e que nunca largarei. 

Aurora que me carrega até aos dias bons do sol e do riso. 

Venha a Primavera.
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A cria obriga o presente a manter se presente. E também exige criatividade. Depois das decorações do Solstício e de toda a experiência das festas, pergunta ela "e a seguir dos Reis?" respondo eu "sãos as Candelárias!!". E agora? Como fazer o período da conquista da luz ser recebido com entusiasmo e como conseguir retirar a decoração das festas passadas sem remorsos?.... Esta pergunta legítima está a fazer me considerar toda uma nova apropriação à Roda do Ano. Estou seriamente a considerar manter a estrutura da árvore e substituir os enfeites do solstício por outros que reflitam o momento da roda. 

Por causa deste desafio estou a fazer um levantamento de símbolos adequados às Candelárias que eu possa incorporar na minha árvem: espirais, cristais, cruzes de Brigit, bonecas de ervas, luas tríplices, vassouras, penas de corvos (resiliência), ou pássaros como o abibe e o picanço real (invernantes), raminhos de árvores de folha perene, pinhas, sinos/badalos, etc.... Se tiverem sugestões, por favor, chutem por que são bem vindas!

E desta vez, vou ter mesmo de fazer arroz doce (que te amo, minha avó) pelos meus anos. Porque a Roda insiste em rodar, e nós com ela ao ritmo de tudo o que compõe este universo.

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 O Solstício aproxima-se e o padrão dá nos força para continuarmos à procura da luz.

A cria já percebeu que esta época lhe traz benefícios variados que vão desde a decoração de todas as árvores de natal da família (bolinhas brilhantes e fitas espampanantes?! como assim?! Tudo DELA!), panquecas ao lanche, músicas de natal ("os caricas" a conta gotas porque preferimos vozes de veludo como Sinatra e o Nat King Cole), e uma expectativa palpável quando uma palavra particular é sussurrada numa conversa perto destes pequeninos ouvidos: presentes. É inevitável a loucura. Sim, vou lhe falando do solstício, da festa do inverno, do sol pequenino que vai nascer em breve, do ano velho que usa como nome de código "pai natal" e que traz um saco com coisas boas, mas sei perfeitamente que esta ágil mente de 2 anos tem o seu foco bem afinado. Para além desta loucura no meio de luzes coloridas, renas, elfos, barbudos com chapéu vermelho, e ESTRELAS (de longe as favoritas), as noites apressam-se e demoram-se e as nossas manhãs de fins de semana estendem-se também porque saltar do quentinho quando faz frio não desperta pressa.

Este ano, as atividades de solstício vão envolver histórias tanto do sol como da nossa família (directa e adquirida de coração cheio) que mudou de plano e que nos ensinou o seu valor, o mesmo que nos cabe passar a quem seguirá à nossa frente. Este ano, abraçamos a luz com noção que somos nós que carregamos a tocha do exemplo daqui para a frente porque a presença se fez memória e a luz nunca será menor do que a que nos iluminou sempre.

E vamos ter arroz doce na mesa. E vamos ter sonhos e azevias. E vamos ter brindes de coração na garganta. E vamos acordar em nós o fogo que só quando invocamos os laços que nos unem nos incendeia e mostra o caminho que estamos a fazer.

E porque esta é uma altura de festejos com muita doçaria típica portuguesa (seja ela louvada em nome de todos os Deuses!), é bom equilibrarmos a coisa com alternativas mais leves. Deixo aqui a minha receita de panquecas sem glúten (se a quiserem mesmo vegan, troquem o ovo por semente de linhaça triturada):

1 ovo (ou 1 colher e sopa de linhaça por cada 2 e 1/2 de água)

Amido de Milho (farinha maizena)

Cacau amargo em pó

Pepitas de cacau cru

Flocos de aveia (opcional mas que, ainda que tenham glúten, dão um crocante interessante à panqueca)

Açúcar de côco

Bebida vegetal à escolha

Óleo de côco

Instruções: misturar os ingredientes (excepto o óleo)  com feeling batendo bem para que não fique com grumos. Aquecer uma frigideira besuntada levemente com o óleo e dispor da massa como e quiser (uma panqueca grande? várias pequeninas? o céu é o limite...por falar em céu, deixem uma janela aberta na cozinha durante a confecção).

Aproveitem enquanto quentes!

Boas Festas a Todos e a Todas!


Referências:

A tradição italiana da Bruxa Befana na Árvore

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Tenho metade do meu coração debaixo de terra.

Tenho metade do meu coração a alimentar a terra em que me tornei.
Tenho memórias que ardem no peito sem o vosso peito para as consolar.
Nunca estive aqui. Nunca estive sem vocês.
Tudo o que tornaram familiar agora é estranho porque as vossas mãos já não nos seguram.
Já não me posso encostar às raízes, porque agora sou eu o tronco que nutre os rebentos.
Vou partilhar o resto da minha vida com as vossas sombras, porque se a vossa essência mudou, a minha que vos pertencia mudou convosco.
Tenho-me debaixo de terra.
Tenho-me a alimentar a terra em que me tornei.
Sou-vos tudo o que me foram. 
Serei tudo o que tiver de ser.
Ensinaram-me o sol e hoje aprendo-vos na lua.
Somos debaixo da terra.
Somos ao peito nas memórias.
Somos nos rebentos que crescem.

Tens as mãos frias meu amor.
Vamos resolver isso.

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A Noite dos Ancestrais criou expectativas cá em casa e o "Halloween" já significa atividade diferente: castelos, morcegos, fantasmas, esqueletos, monstros, caldeirões e (sobretudo!) abóboras com caras!

A cria já percebeu que esta cena do "Halloween" dá para tirar as pinturas da caixa, (re)talhar laranjas, e brincar com bruxas de meias às riscas e chapéus bicudos.
As refeições temáticas dão-lhe o sabor extra e monstros de maçã com olhos de mirtilo estão a tornar-se "A" sobremesa.
Esta altura do ano é sempre uma altura de segurar portas e mantê-las abertas o suficiente para que o trabalho possa ser feito com todos. Custa e esgota as reservas de energia até ao tutano. Mas somos porteiros porque estamos vivos. Nós podemos acolher e receber, pôr mais um lugar à mesa, ensinar os nomes de quem partiu e contar as suas histórias a quem nasceu depois. Nós somos quem assiste à memória que mantém a porta aberta para que quem partiu se sinta sempre bem vindo.
Neste Dia de Finados, em que no nosso território se faz a visita às pedras onde os (n)ossos repousam, o tempo pausa, e o passado faz-se presente.
Hoje, do meu coração para o eco dos corações que já não batem, eu faço da recordação o chão e a raiz que sustenta a casa da minha família.
Hoje, aproveito a viragem desta Roda para limpar no fogo o que não cabe no meu futuro, e incendeio o que quero que preencha esse espaço nesta Roda que recomeça. Porque todo o fim é um princípio.
E entre cogumelos caveira, e sepulturas de chocolate, brindamos alto e brindamos muito, às linhagens, aos heróis, aos modelos de amor, aos amados e amadas, às cicatrizes partilhadas...ao encontro depois da despedida.
E depois de cansarmos o corpo na festa da noite, a alma pousa e contempla o tempo imparável. O Outono corre para o Inverno. O sol nasce e  desce mais cedo. A luz da vela dança no altar iluminando os sorrisos nas fotografias que quem nos ensinou a sorrir. E tudo corre.
Aos Finados, aos Nascidos e aos Porteiros: Bem Vindos, hoje e sempre.
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Nascem os Seminários de Bruxaria Contemporânea! 

Numa iniciativa do Crónicas e do Sob o Luar, vamos convidar pessoas que vivam a realidade da Bruxaria para que partilhem as suas visões, reflexões e experiências!

Numa altura em que o preço da ignorância se paga em medo, vamos dar voz e expressão para que a definição da arte venha de quem a pratica e vive.

Juntem-se a nós e venham descobrir quem são, então, as bruxas e os bruxos? 

Sigam o primeiro evento público no canal da Comunidade Paganices aqui!


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Somos as histórias que contamos para dentro e para fora.
Somos as histórias que aceitamos ser.
Da próxima vez que ouvirem alguém contar a história de família, onde mais de 10 irmãos foram criados para herdarem uma visão, um terreno, uma empresa, perguntem sobre as mulheres dessa linhagem. Pela mulher que pariu 14 vezes. Pelas mulheres a quem foi negado os estudos. Pelas mulheres que foram casadas com parceiros de negócios que tomaram as heranças que eventualmente teriam. Convido-vos a procurarem as histórias suprimidas dos mitos familiares. Convido-vos a mergulhar nesse desconforto. Talvez tenham, em paralelo com o patriarca da família, o lugar da matriarca rígida, amarga, seca e pouco afetiva. Não acredito que as histórias que descubram as desculpem de feridas causadas a partir dos papéis que ocuparam nas famílias que sustentaram, mas pelo menos hão de dar contexto, e uma empatia que as torne mais humanas e próximas de nós. Quando vejo mulheres a falarem das histórias familiares a mencionarem os avôs, os pais, os homens extraordinários que construíram mundos e fundos, eu penso sempre nas mulheres em cima das quais essas vidas se sustiveram, das mulheres que sustentaram os sonhos que não os delas porque a elas não foi permitido. Das mulheres que tiveram que criar as 14 crias que nasceram do corpo delas, das lições amargas a explicar às meninas que não podiam esperar ser iguais aos meninos, das lições ainda mais amargas a explicar às mulheres que não iam onde os homens iam e que tinham de se contentar com o caminho atribuído (talvez sendo mães de mais 14). Convido-vos a pensarem nas histórias das mulheres que não vos foram contadas porque não tinham interesse em ser contadas. Porque não contavam importância. Só esta realidade é dilacerante. Tantas delas nem a escrever e ler foram ensinadas. Por tudo isso convido-vos a procurarem o que ficou por contar e talvez, até, encontrem os pedaços que vos ajudem a curar feridas que não sabem onde começaram.


À vossa memória, Silvina e Senhorinha.
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Literalmente, sobre as sombras que se escondem no Paganismo. Esqueçam o Jung. É mesmo a parte sombria e perigosa que se esconde no Paganismo como em qualquer outro movimento ideológico, espiritual e religioso. 
Depois de um pontapé de entrada vindo do Sob o Luar através das mãos ponderadas da Alexia Moon (leiam o artigo aqui!), resta o confronto com o que se tende a instalar na sala quando se fala de problemas ligados a  experiências e vivências do outro. Para todos os que nunca se aperceberam desta realidade no Paganismo (e no mundo!), boa para vocês. A probabilidade de serem homens é elevada e provavelmente lembram-se de alturas no passado em que coisas eram feitas em nome da liberdade e do secretismo que hoje NÃO PASSAM (e ainda BEM!). 
Vamos por partes. Para todas as pessoas que passaram décadas, anos, meses, semanas ou horas em contacto com quem se move nas comunidades pagãs portuguesas (sim, são várias...) ou nas comunidades em português, a vossa experiência pode ser imaculada. Mas eu duvido que acreditem que somos todos unicórnios mágicos do amor incondicional. 
Somos humanos. E somos, sobretudo, responsáveis pelo que fazemos sós ou em grupo.  Somos das nossas escolhas e somos também produto do tempo que nos faz. E dou agora ênfase a esta questão do tempo que nos faz por um motivo particular: o que é hoje considerado uma questão ética podia ser interpretado de uma forma diferente no passado. Agora segurem-me a mão porque vamos chegar lá.
O que hoje declaramos que é inaceitável de se fazer a troco de conhecimento e poder, provavelmente não o era há 30 ou 40 anos atrás porque (como muitas coisas quando se fecham no secretismo) não se questionava outra forma de o fazer. 
Hoje, décadas de reflexão e terapia em cima, conseguimos discernir o quão predatórias eram as práticas que, na altura, só eram vistas como recruta. 
Hoje, conquistamos o direito de colocar o limite no que não sentimos que seja adequado, saudável e benéfico. E eu não estou a brincar quando afirmo que estas considerações não se punham. O que havia era pouco e os que o controlavam faziam as regras. O que significa que, quem atravessou esse tempo, viveu esse padrão e convive hoje com as memórias e percepções dessas experiências, pode agora sentir-se desfasado deste tempo. E isso não tem de ser desvantajoso.
Somos todos sobreviventes nas nossas histórias de vida porque toda a nossa existência é pautada pelas dinâmicas de poder em que participamos e não podemos dominar em todas. O que significa que, se a corrente de ideias hoje tornou essa realidade uma questão ética, então ganhamos todos em reflectir sobre isso. A nossa integridade física e psicológica não tem preço. Que ninguém vos convença do contrário. Se isto não era considerado antes, então ainda bem que o é hoje! 
E eu não me considero alarmista por trazer estes temas ao lume do caldeirão. Quando muito sou humanista consciente. Humanos são falíveis. E não existem mestres perfeitos ou todo poderosos que saibam o que é melhor para vocês sem serem...Vocês.
E quando sabemos o valor que tem a nossa integridade, as pessoas com quem aprendemos e a quem ensinamos no nosso caminho ganham. Mas para sabermos o valor desta regra de ouro, temos de falar de sombras e dar-lhes visibilidade. Porque, como as últimas décadas nos ensinaram, à luz da reflexão e consideração as sombras mirram e perdem poder. E ninguém chega aqui sem saber que estamos todos a fazer magia com cada um dos nossos gestos e escolhas, certo?
Então sigamos em frente confrontando as sombras, levando a nossa vida e o mundo no processo, para um sítio melhor.

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Filmes Pagan Friendly são os filmes que tocam em temáticas pagãs e as trabalham de alguma forma. Esta é uma breve review de alguns que focam em especial a narrativa de protagonistas femininas, o que significa que a jornada da heroína vai ser semelhante em cada uma destas histórias, e ainda assim, cada uma delas vai enriquecer a narrativa da Heroína no seu Arquétipo Feminino.




Brave - explorar a relação entre mãe e filha, das expectativas de uma e a vontade própria da outra, rompe padrões de "feminino" reconhecendo autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas. Explora a dinâmica entre intenção e magia e quão fácil é cegar pelas emoções quando se deseja uma mudança rápida e o lidar com as consequências de mexer em magia de forma descuidada. 
Elementos pagãos: bruxas/bruxaria, as três fases da Deusa se observarmos a Donzela Merida, a Mãe Rainha Elinor e Anciã Bruxa (Crafty Wood Carver); antepassados; folclore mágico (wisps na floresta mágica).


Moana - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal, relação ternurenta da avó com a neta e a importância/força de conhecer e conectar com o passado e os antepassados. Explora o lugar das más decisões quando a carência e falta de autoestima dominam as ações, e as consequências delas. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ignorância causam. 
Elementos pagãos: culto dos antepassados; Deusa Criadora e Deusa Destruidora  (Te Fiti e Te Kā); Semideus Maui; Elemental Água. 


Frozen - explora a relação entre irmãs, mais do que as expectativas sociais, a confiança e o laço afectivo entre as duas, com uma delas a entregar-se na jornada do medo/poder/isolamento e a outra a entregar-se à jornada amor/esperança/sacrifício. Explora a vulnerabilidade do isolamento e o escalar de decisões baseadas nele. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: folclore mágico (Trolls); irmandade feminina; Elemental Água/Gelo (poderes da Elsa e Olaf).


No Frozen II a jornada amor/esperança/sacrifício de uma vai levar a outra à jornada medo/confiança/coragem. Explora também os erros do passado e as consequências e resolução no presente, o que em particular cai em cima de um trabalho de geração para geração. Explora a dor da perda e do lugar da autonomia mesmo entre relações próximas como as de irmãs. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: Elemental Fogo Elemental Terra, Elemental Água, Elemental Ar e o Elemento Gelo como o Espírito que une todos (Elsa e Olaf); folclore mágico; floresta mágica; antepassados; irmandade feminina; e a segunda melhor música com letra pagã de sempre (!)"All is Found".



Pocahontas - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal que torna o rompimento com a primeira inevitável, e escala a narrativa até a autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas ser reconhecida. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ganância causam. Explora a relação mágica orgânica entre a tribo e a natureza (Avó Willow).
Elementos pagãos: folclore mágico, princípios de respeito, irmandade, e equilíbrio perante o mundo natural. E a primeira melhor música com letra pagã de sempre "Colors of the Wind"!


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Segundo o dicionário, a.bun.dân.ci.a é um nome feminino que originou do latim abundantia, -ae, e que significa "quantidade maior que a precisa", riqueza, fartura.

As palavras têm poder, certo?

Vivemos sob a chaga do consumismo que se alimenta de imagens e mensagens que nos aliciam para o muito, para o excesso, para o que ultrapassa o que é essencial ou necessário. Abundância remete precisamente para este universo. E se a ideia é utilizar só a palavra mas evocar o pensamento ecológico e auto sustentável, então volto a lembrar:

As palavras, têm poder.

Quando me foco na palavra abundância, estou a sob-quantificar um estado de mente e espírito, mas a abundância em si não devia sequer ser uma meta, devia ser um método para chegar a algum lado. Então porquê a obsessão com a palavra abundância e não na meta dela? A meta dela, suponho, que seja o bem estar. Mas a pergunta que me queima quando vejo a abundância é, eu preciso de ser abundante ou ter uma vida abundante para alcançar o bem estar? Intuitivamente respondo não. A abundância não é necessária. O que é necessário é equilíbrio de recursos e necessidades. É, na verdade, reduzir o ruído dos chavões e palavras atractivas e que enchem o ego e focar no que importa. E esta é a minha primeira crítica à onda da abundância que anda em voga. Porque, e repito, as palavras têm poder. 

A outra crítica que apresento é a da instrumentalização a la carte de culturas e tradições que foram desenvolvidas por quem se comprometeu e compromete com aquela cultura particular e não por quem as escolhe no menu das práticas iluminadas e esclarecidas. Exemplo: desafiar pessoas (indiscriminadamente) com chavões que nos são familiares (como abundância) e distribuir práticas que envolvem recitação de mantras e técnicas de meditação que foram importadas de tradições íntegras e que desta forma ficam completamente desfasadas do seu enquadramento e contexto espiritual e cultural. E tudo isto sem uma pessoa manifestar a pergunta "Caminhas nesta tradição ou estás dedicado a uma tradição semelhante?" ou ainda, mais ousado "Caminhas numa tradição diferente desta? Isto faz-te sentido tendo em conta o teu caminho?" ou "Esses mantras são composto por palavras em sânscrito, queres saber o que significam para saberes o que estás a entoar?". É que as assumpções prejudicam e o que até podia ser uma oportunidade formativa e de exploração consciente de uma realidade diferente transforma-se num certificado de preces, cânticos com sons bonitos e mecânica de respirações que independentemente do efeito benéfico que despertem, vão continuar a ignorância relativamente à cultura e às realidades que pariram aquelas tradições. O "outro" (seja uma pessoa, entidade, ou um tipo de conhecimento) deixa de ser uma porta para conhecer o que se desconhece e passa a ser um confortável e perverso "é tudo igual". 

A alteridade é das maiores riquezas que a humanidade manifesta (seguida de perto pela pizza). Mas a força na diversidade só cumpre a função se nos permitirmos ao desconforto de ver o que é diferente e não ter medo de o aceitar enquanto diferente. Quando uma abordagem familiar se constrói em cima alicerces tão diferentes da nossa realidade, algo vai inevitavelmente ser comprometido e perder-se no processo. Por isso é que (mais do que abundância) o equilíbrio e a sustentabilidade aliadas ao conhecimento deveriam ser o caminho e a meta. Porque, mais uma vez, as palavras tem poder.


Referências:

"abundância", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [online], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/abund%C3%A2ncia [consultado em 15-07-2020].

"pizza is life", in Urban Dictionary, [online], https://www.urbandictionary.com/define.php?term=Pizza%20Is%20Life [consultado em 15-07-2020].

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Ninmah, também chamada de Ninhursag (Senhora da Montanha) é a Deusa Suméria (3200–2900 AEC) que assume a co-Criação da Humanidade e a Maternidade dos Deuses. É vista como a Mãe de Deuses, Reis, e das Mães. 
Nossa Senhora, Mãe do Messias Cristão, Escolhida do Senhor de Israel, Sofredora do destino do seu Filho, que ascendeu aos céus sem ter morrido. Dos inúmeros epítetos nasceram imagens e cultos próprios por todo o mundo cristianizado mas assim como Ninmah e os seus diversos nomes, historicamente são considerados títulos da mesma entidade.
Separadas por milénios de devoção, vestidas com mitos distintos, é no eco de maternidade divina e colectiva que estas duas Senhoras se encontram. As mães da humanidade. Que assistem nos mistérios da vida e na morte. Que guardam o conhecimento dos ciclos femininos dos quais depende a humanidade e o seu futuro. A dor de parir, a alegria de cuidar e de ver crescer, a dor de assistir ao sofrimento de quem amam, a dor observar a morte e saber que quem dá o princípio da vida também dá o fim da morte.

Uma das maiores transformações deste arquétipo de Mãe colectiva, foi a da transmutação da fertilidade do corpo para a criatividade das ideias, sendo parteiras de vida, seja ela biológica das nossas entranhas, seja de projectos, ideias da nosso abstracto para o nosso concreto.

E a ponte, assim como Anaïs Nin a descreve, é feita: parimo-nos a nós próprias quando nos entregamos à febre criativa e reflexiva. A Fertilidade é conquistada como campo infinito fora da condição biológica de quem consegue ou não reproduzir-se.
Mas neste novo paradigma, onde o biológico é parte mas não base, onde fica o feminino? O conceito de fêmea? No limite desta visão, poderia ser acessório ou mesmo irrelevante?
Mas eis que no ato de, novamente, levantar os olhos para uma imagem de Nossa Senhora e perceber que continua a fazer sentido o feminino enquanto mapa biológico. O ritmo do abstracto não é o mesmo do concreto. E o concreto tem padrões que nos obrigam a olhar para o que de facto se manifesta. E hoje, o que se manifesta, é um padrão feminino de vulnerabilidade, de invisibilidade, roubado de um poder extraordinário. Esse desequilíbrio é reflectido no padrão dominador, que do outro lado, dependente deste feminino para se conceber e manter.

E nesta espiral de ideias que corre até o real nos fugir de vista novamente no jogo de espelhos que é o reflexo do universo a partir das nossas percepções e narrativas, olho novamente para uma imagem como a de Fátima, toda ela impávida e serena na sua existência mitológica, e sei que ela move milhões. Milhões dependem dela enquanto conceito operacional todos os dias.

Temos que reconhecer o seu trabalho e a ansiedade nascida da sua necessidade. Talvez reinterpretar os seus mitos e o seu protagonismo para que nos mapeie no tempo em que vivemos. Talvez esse trabalho seja possível para quem venha do Paganismo, e que procure padrões colectivos onde a devoção afunila para o particular.

O facto é que o padrão de procurarmos um colo feminino que assuma para si a guarda e o sustento do colectivo universal está presente hoje como estava há muitos ontens atrás.

Entre Ninhursag e Nossa Senhora do Monte, tempo e civilizações as separam, mas é na terra que representam e nas gentes que as adoram que são a mesma.


Referências
Anaïs Nin - Sobre a Febre de Criar
https://youtu.be/UwP9qx4A9Lw

Therese Rodin - O Mundo da Deusa Mãe Suméria: Uma Interpretação dos seus Mitos
https://www.academia.edu/8256850/The_World_of_the_Sumerian_Mother_Goddess_An_Interpretation_of_Her_Myths

Maria no Cristianismo

Foto da Nossa Senhora do Monte (Santarém) retirada a 09/06/2020 de:
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Hoje vamos experimentar uma receita deliciosa, fácil e leve.
Começamos com uma rápida contemplação à nossa cozinha para constatar que foi adquirida demasiada fruta para o consumo que é feito neste lar, muito devido aos irresistíveis morangos e pêssegos que apanharam o nosso nariz e encontraram rapidamente espaço no nosso saco de compras. E ainda descobrimos uma laranja reservada para uma experiência de óleos essenciais caseiros que acabou por ser substituída, à última hora, por um limão (que já ameaçava passar para o lado bolorento da força).

O passo seguinte é reunir as frutas que passaram a segundo plano depois da última ida às compras: 3 maçãs e 4 pêras.

De seguida, procedemos ao descasque e corte das ditas em pedaços filetados rústicos dispondo-os numa panela com água. Hum... Podemos aproveitar a casca daquela laranja e juntar a cozedura desta fruta toda, para lhe dar um toque diferente... Talvez corra bem... Nunca fizemos uma tarte destas, mas já que estamos a aproveitar fruta sem destino decretado, mais vale. Confiança. Onde está o descascador?

Depois, damo-nos conta que se calhar aquela quarta pêra é demais, e que mais vale ficar assim 3 por 3. Deixamos a quarta pêra ao lado da laranja descascada, ainda sem ideia sobre o que vamos fazer com a laranja despida e já a repensar a cena toda do aproveitamento da casca.

Escolhemos recalcar as dúvidas e avançamos com coragem para a parte onde a fruta já ferve com a casca de laranja e acrescentamos 3 colheres de açúcar de coco. Bolas. Cheira demasiado a laranja... As dúvidas retornam em força e reavaliamos amargamente a decisão de termos juntado a casca da laranja à fruta que ferve no fogão. Até porque a laranja despida olha-nos acusadoramente e a cozinha torna-se pequena para aquela tensão toda.

Já com notas de pânico, decidimos fazer uma salada de fruta com a a pêra a mais e a laranja descascada, e acrescentamos 1 banana, 3 morangos e 1 pêssego. Rapidamente colocamos esta ideia numa taça e acrescentamos água para que o aspecto não denuncie o quão irreflectido foi o curso das nossas decisões até chegar a este ponto.

Entretanto, a fruta cozida só cheira a laranja e decidimos que é melhor pescar a casca da laranja na fervedura. Fazêmo-lo bem e queimamo-nos também no processo, mas o remorso aplaca o queixume. Assumimos que a vida tem que continuar e que as escolhas que foram tomadas não poder ser alteradas agora. Tiramos 3 folhas de gelatina e misturamos um pouco de água morna antes de agitar tudo e levar ao micro-ondas por 30 segundos. Durante esta rápida sequência, questionamo-nos se alguma vez usamos gelatina transparente antes... não temos registo de memória disponível... e ainda assim, sabíamos o que fazer com ela. Concluímos que os desígnios divinos são insondáveis e misturamos a gelatina já em estado líquido na fruta.

Avançamos para a massa folhada....

Começamos por tirar o rolo de massa folhada fresca comprada no minipreço.

Próximo passo.

Espalhamos a massa numa forma redonda baixa (haverá pessoas que chamem a isto uma assadeira, mas nós somos pessoas de pensamento divergente que sabemos melhor). Com perspicácia, colocamos, entre a massa e a forma, o papel vegetal que enrolava a massa na embalagem porque, com todo este festival de experiências, não queremos arriscar mais as leis de Murphy.

Ligamos o forno no máximo com ventoinha e olhamos mais uma vez para a salada de fruta que originou do pânico de uma serie de movimentos impulsivos. É uma boa altura para a colocar no frigorífico.

Depois de calcarmos docemente a massa fresca na forma (em cima do papel vegetal), vamos contemplar a fruta que ferve no fogão, confirmando que ainda cheira bastante a laranja e consideramos se deveríamos despejar o conteúdo da panela para dentro da forma. Uma voz diz-nos que isso só vai ensopar a massa folhada, e nós vamos ouvir esta voz com MUITA ATENÇÃO!

Desta forma, vamos filtrar a fruta  num passador e não vamos reflectir sobre o facto de a gelatina provavelmente ter sido um acrescento inútil uma vez que vamos só aproveitar a fruta...adiante!

Depois de espalharmos a fruta pela forma, apercebemo-nos que aquela pêra a mais tinha dado jeito, mas para afastar o remorso, vamos calcando a fruta e distribuindo-a de uma forma mais homogénea até uma corzinha estar presente um pouco em todo o diâmetro da forma.

Com algum contentamento pelo projecto inicial estar com um ar convincente, colocamos a forma no forno e rodamos 15 minutos a 200º.

Olhamos à volta absorvendo a loiça que temos para lavar e voltamos a questionar o sentido da nossa vida.

Remetemo-nos para a nossa condição humana e mortal e vamos lavar a loiça.

Entretanto, vamos espreitando o forno e com algum deslumbramento, vamos reconhecendo que, de facto, o que fizemos se parece mesmo com uma tarte.

Com renovada esperança na humanidade, e nas decisões que tomamos na nossa vida, vamos reunindo as cascas da fruta e somos novamente assolados pela espectro da acusação: não vamos aproveitar as cascas... Decidimos que merecemos provar a salada de fruta e distrair-nos desse falhanço.

Não está má.

E sente-se bem a laranja.

O forno apita e nós vamos retirar a tarte de pêra e maçã colocando-a numa base na bancada...e contemplar o sucesso. Aspecto e cheiro, tem.

A medo, vamos cortar uma fatia pequenina, naquela só do ir arrefecendo para provar.

Mas lembramo-nos de que os americanos comem tarte quente e consideramos que não deve ser mau. Provamos.

Sucesso!!!!!

Não sabe muito a laranja!

Viram como é fácil?!

Super recomendo!

Acompanhem-me na próxima aventura da cozinha que deve estar para breve porque aquelas bananas... não estão a ficar muito maduras?


*a foto foi tirada no fim da crónica e as repetidas provas que foram feitas só para ver mesmo se ficou bom, são notáveis. Continua a não saber muito a laranja. Orgulho.

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Hoje é dia 25 de Abril e compete a cada cidadão e cidadã que viva em Portugal dar voz ao dia da Liberdade.
Há 46 anos atrás mudámos de regime político e a voz pode erguer-se outra vez.
Não nasci para assistir a essa data, mas cresci a reconhecê-la.
Todos que me lêem hoje podem fazê-lo, podem partilhar as minhas palavras onde quiserem e podem criticar cada sílaba que escreva, porque este dia trouxe a liberdade para o fazer.
A liberdade será sempre um direito de alta manutenção e como tal, exercê-lo e defendê-lo é o que nos garante que ele subsista.
Devemos isso a cada uma das pessoas que perdeu a vida antes desse direito e para que esse direito fosse conquistado. Devemos isso a cada uma das pessoas que se puderam erguer graças a essa conquista.
E para nós que caminhamos em tradições não católicas (e até não cristãs) esta é uma responsabilidade ainda maior. Foi preciso o 25 de Abril amadurecer 27 anos (!!) para que nascesse a lei da liberdade religiosa! Mas nasceu! É nossa! E é nossa responsabilidade dar-lhe voz e corpo!
Da liberdade de nos exprimirmos, criticar e rir, da liberdade de acreditar e não acreditar, bem como de praticar culto e de reunir, tudo isto é nosso graças a um movimento na primavera de 1974. 
Hoje, em pleno estado de emergência nacional, com as liberdades condicionadas pelo bem da saúde pública, este dia urge de ser marcado, celebrado, cantado, e gritado!
Grata pelo caminho feito e arregaçando as mangas pelo caminho que falta para garantir que as próximas gerações aprendam a continuar. É o nosso dever e a nossa salvação. Unidos, em casa ou na rua, conseguiremos.

Como mulher, cidadã, colega, companheira, mãe, pagã e sacerdotisa politeísta...

...25 de Abril Sempre!




*música de Zeca Afonso, versão e video por Judas Cravo



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