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 O Solstício aproxima-se e o padrão dá nos força para continuarmos à procura da luz.

A cria já percebeu que esta época lhe traz benefícios variados que vão desde a decoração de todas as árvores de natal da família (bolinhas brilhantes e fitas espampanantes?! como assim?! Tudo DELA!), panquecas ao lanche, músicas de natal ("os caricas" a conta gotas porque preferimos vozes de veludo como Sinatra e o Nat King Cole), e uma expectativa palpável quando uma palavra particular é sussurrada numa conversa perto destes pequeninos ouvidos: presentes. É inevitável a loucura. Sim, vou lhe falando do solstício, da festa do inverno, do sol pequenino que vai nascer em breve, do ano velho que usa como nome de código "pai natal" e que traz um saco com coisas boas, mas sei perfeitamente que esta ágil mente de 2 anos tem o seu foco bem afinado. Para além desta loucura no meio de luzes coloridas, renas, elfos, barbudos com chapéu vermelho, e ESTRELAS (de longe as favoritas), as noites apressam-se e demoram-se e as nossas manhãs de fins de semana estendem-se também porque saltar do quentinho quando faz frio não desperta pressa.

Este ano, as atividades de solstício vão envolver histórias tanto do sol como da nossa família (directa e adquirida de coração cheio) que mudou de plano e que nos ensinou o seu valor, o mesmo que nos cabe passar a quem seguirá à nossa frente. Este ano, abraçamos a luz com noção que somos nós que carregamos a tocha do exemplo daqui para a frente porque a presença se fez memória e a luz nunca será menor do que a que nos iluminou sempre.

E vamos ter arroz doce na mesa. E vamos ter sonhos e azevias. E vamos ter brindes de coração na garganta. E vamos acordar em nós o fogo que só quando invocamos os laços que nos unem nos incendeia e mostra o caminho que estamos a fazer.

E porque esta é uma altura de festejos com muita doçaria típica portuguesa (seja ela louvada em nome de todos os Deuses!), é bom equilibrarmos a coisa com alternativas mais leves. Deixo aqui a minha receita de panquecas sem glúten (se a quiserem mesmo vegan, troquem o ovo por semente de linhaça triturada):

1 ovo (ou 1 colher e sopa de linhaça por cada 2 e 1/2 de água)

Amido de Milho (farinha maizena)

Cacau amargo em pó

Pepitas de cacau cru

Flocos de aveia (opcional mas que, ainda que tenham glúten, dão um crocante interessante à panqueca)

Açúcar de côco

Bebida vegetal à escolha

Óleo de côco

Instruções: misturar os ingredientes (excepto o óleo)  com feeling batendo bem para que não fique com grumos. Aquecer uma frigideira besuntada levemente com o óleo e dispor da massa como e quiser (uma panqueca grande? várias pequeninas? o céu é o limite...por falar em céu, deixem uma janela aberta na cozinha durante a confecção).

Aproveitem enquanto quentes!

Boas Festas a Todos e a Todas!


Referências:

A tradição italiana da Bruxa Befana na Árvore

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Carta deste Solstício de Verão à minha Filha:

Meu amor bom, este Solstício foi passado a correr. Ainda mais tendo sido dia de vacinas para ti. Mas, ainda que tenham sido picadas meio à traição, os beijinhos, colo e mama sempre consolaram esse beicinho.
O Sol chegou ao seu apogeu e tu, ao teu ritmo maravilhoso, tornas-te cada dia mais tua, mais menina, mais senhora do teu nariz. Nesta estação, eu e o Papá queremos dar-te a experiência da praia, da areia e do mar, do cheiro da sardinha, do vento na serra e no moinho, do bailarico, do pão e dos pés (teus) em todo o lado! Agora que o poder do sol reina, a natureza caminha para as colheitas e nós tencionamos colher da nossa família cada polaroid e palhaçada disponível. A gataria já está em modo veraneio e a busca pelos espaços frescos para bater sestas subiu de nível (e de pêlo...muito pêlo pela casa). Até tu, meu amor, já representas toda uma nova presença nesta casa, perseguindo as duas caudas incautas que dormem pelos cantos e que fogem ao primeiro (e inesperado) puxão dessas mãozinhas. Espera-te também, fruta nova no menu. O Papá vai dar-te morangos no terraço dos bisavós e a Mamã vai apanhar figos contigo. Vais ouvir muitas histórias ( para além do "Onde está o Bolinha?") e roer tudo o que conseguires. ELO e Beatles, Joni Mitchel e Joan Baez estarão entre muitos outros na tua banda sonora. Vais ver flores, cheirar lavanda e alecrim, apanhar pétalas de rosa e tentar comê-las. Vais ver o primo, os primos, as primas, a tia, o tio, os avós, e dormir sestas sempre que possível (!!!). Este verão é nosso para viver e acrescentar no livro das nossas vidas contigo. Sob a bênção de Utu, de Lugh, da luz que nos céus reina e a terra coroa, somos nós abençoados com os teu olhos brilhantes e o teu sorriso de aurora.

Feliz Verão para ti e para nós meu amor*

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Chegados à época festiva, para mais, o primeiro Inverno da minha filha, e o contexto cultural vai-se fazendo sentir.
É Natal.
Feliz Natal
Santo Natal.
Todas as músicas de Natal.
E eventualmente....começamos a ranger os dentes...
E a resmungar para dentro...
E a sentir uma vontade grande de ouvir Jethro Tull... Damh the Bard... Lorenna Mckennit...
E somos inundados com todas as imagens de anjos, bebés em manjedouras, reis magos com presentes de última hora (a sério Belchior, mirra?), enquanto tentamos seleccionar velas, renas sóbrias,  azevinho perene e flocos de neve que se pendurem à porta. 

O que significa ser-se pagão nesta altura?
O que muda e como?
Convido todos os pagãos que têm dificuldades nesta altura a observarem o macro do fenómeno: o Inverno chega e a terra comporta-se de acordo, virada para dentro, reservando a vida na profundidade das raízes ao abrigo dos ventos e chuvas frias. 
As narrativas desta altura constroem-se em cima do centro do lar: a lareira, esse símbolo de luz, conforto, alimento e segurança.
O fenómeno astronómico que se dá nesta época é o Solstício de Inverno. Este fenómeno vai ser observado por inúmeras tradições pagãs tais como o Yule e a Saturnália.
Pelo universo politeísta antigo, este padrão vai encontrar-se e desenhar uma celebração alargada pela chegada do Inverno, preenchida depois, em cada uma das tradições, com os seus personagens específicos.
No nosso ocidente, os elementos que marcam a chegada do Inverno são ilustrados em cenários de fauna e flora (renas na floresta de pinheiros coberta de neve) ou cenários domésticos centrados num foco de luz (seja uma lareira, uma árvore enfeitada de luzes, uma mesa iluminada e recheada de comida, velas, etc.). Estes são os elementos que fazem sentido nos nossos exercícios de sintonia com a época e que nos estão acessíveis para além de qualquer propriedade religiosa.

Pai de barbas brancas ou só um senhor com um saco que entra nas casas com crianças?

E entramos no reinado do Pai Natal. Pessoalmente, não vejo problema em olhar para o Pai Natal e identificá-lo como a entidade que representa o próprio Inverno (barbas brancas de neve, vestido com várias camadas de roupa polar por causa do frio) ou mesmo o próprio ano que morre/acaba. A lenda do Rei Carvalho e do Rei Azevinho, que se batalham a cada Solstício ganhando o Azevinho no Verão e o Carvalho no Inverno é também uma mitologia bonita de se integrar nesta altura. Há ainda espaço para o associar com as tradições nórdicas de Odin (que frequentemente se mascarava e visitava quem lhe abria a porta, recompensando os humildes e generosos e castigando quem não era hospitaleiro). Sou também fã da Santa Befana porque, não só me lembra da melhor que se come no Rossio como ecoa nas tradições italianas como folclore resistente: a senhora que viaja na noite de 6 de Janeiro deixando carvão nos sapatos de quem se portou mal  deixando doces nos sapatos de quem se portou bem. Além disso, ela viaja numa vassoura...sim...com este nível de óbvio. 

As árvens.

A árvore de natal é outro tópico incontornável da quadra. É uma árvore? É. Tem a ver com o Natal?... Mais ou menos....?
A construção da cultura natalícia foi conseguida com uma serie de sincretismos entre elementos interculturais e interreligiosos. Surpresos? Não deviam... Não há menção nenhuma de uma árvore da natividade nas escrituras... Mas, em termos de macro, mais uma vez, trazer uma representação da natureza que resiste durante o Inverno (o pinheiro é de folha perene) e cobri-la de luzes e enfeites (carregada de luz e brilho para atrair a luz do pequeno sol que renasce) é um gesto cheio de simbolismo e sentido para qualquer pessoa que tem os ciclos naturais como a referência maior de transcendência e sacralidade. A nossa árvore enfeitada tem adereços enviados pela minha mãe, uma foto da minha filha, e um boneco de barbas no seu topo. Há uma boneca Befana a pairar acima da árvore com um ar simpático agarrada à sua vassoura.

Consoadas felizes.

Jantar com as famílias, normalmente com elementos religiosos explicitamente conjugados nas festividades, e mais uma vez observamos o macro: é um festival que convida ao convívio saudável e à presença de familiares numa ocasião feliz. Independentemente das crenças e de quem as carrega, este é um momento de conciliação. Vamos ultrapassar a linguagem que temos como externa ao Paganismo e vamos ler a realidade como ela é. É Inverno. O frio chegou com toda a sua glória. As crianças resguardam-se mais e passam mais tempo dentro de portas. Isso significa que a casa vai abrigar a família inteira durante longos períodos de tempo. Conciliação é a palavra de ordem que vai permitir a família chegar à primavera inteira. Conciliação e cedência, já agora. Mas, divago. Consoada é a antecâmara para a festividade generalizada da família. Eu organizo-a ou frequento-a todos os anos com a minha família, seja do meu lado, seja do lado dele. E não me sinto minimamente em conflito com as minhas celebrações de Solstício. Adoro a minha família. Se há um dia em que todos se sintonizam a essa ideia de reunião e encontro, eu vou aproveitá-la. E quero que a  minha filha a viva também. São boas memórias e alicerçam as nossas relações de uma forma que ultrapassa as barreiras eventuais de ideologia, politica e religião. E essa é a mensagem que eu professo nesta altura do ano para mim e para a minha família.

Balanço da experiência

Como pagã, procuro ter em casa elementos com os quais identifico a minha ideia de celebração de Inverno e que se associam ao Inverno no geral e à energia da época no particular. Este ano, a casa foi povoada de barretes quentinhos, estrelas douradas, os sinos e sininhos, as corujas em raminhos (este ano isto aconteceu), luzinhas à volta do careto, velas e um homem de gengibre.
No Solstício brindei à noite mais longa do ano e celebrei-a num jantar com amigos da arte.
Na noite de 24 de Dezembro saudei a família presente e a antepassada e acolhi-os numa noite quente e feliz com as pessoas que amo.

Não tive que mudar nada à minha volta. Apenas de seleccionar o que quero que faça parte da minha experiência. Ou interpretar os elementos que me rodeia num sentido que me seja mais rico e familiar às minhas práticas e crenças. Acredito que este não tem de ser um tempo de antagonismo ou luta. É a estação do frio. Sobrevivemos se nos mantermos unidos. Assim a natureza o espelha.

Este primeiro Inverno foi esgotante porque fomos os anfitriões. Mas foi uma experiência única e maravilhosa com todos e todas à mesa, no sofá, pelo chão, e dentro das caixas vazias (estou a ver-vos, gataria).

Foi importante para nós marcar este momento. Foi importante para nós receber a nossa família com a nossa filha. É importante para nós, manter as tradições que nos aproximam das pessoas que amamos.

E como pagã, carregar a minha casa com estas memórias e com esta energia é uma experiência poderosa e sagrada.

Mais informação sobre:

Yule

Saturnália

Befana

Árvore de Natal

Tradições Pagãs no Natal
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