Ninmah, também chamada de Ninhursag (Senhora da Montanha) é a Deusa Suméria (3200–2900 AEC) que assume a co-Criação da Humanidade e a Maternidade dos Deuses. É vista como a Mãe de Deuses, Reis, e das Mães.
Nossa Senhora, Mãe do Messias Cristão, Escolhida do Senhor de Israel, Sofredora do destino do seu Filho, que ascendeu aos céus sem ter morrido. Dos inúmeros epítetos nasceram imagens e cultos próprios por todo o mundo cristianizado mas assim como Ninmah e os seus diversos nomes, historicamente são considerados títulos da mesma entidade.
Separadas por milénios de devoção, vestidas com mitos distintos, é no eco de maternidade divina e colectiva que estas duas Senhoras se encontram. As mães da humanidade. Que assistem nos mistérios da vida e na morte. Que guardam o conhecimento dos ciclos femininos dos quais depende a humanidade e o seu futuro. A dor de parir, a alegria de cuidar e de ver crescer, a dor de assistir ao sofrimento de quem amam, a dor observar a morte e saber que quem dá o princípio da vida também dá o fim da morte.
Uma das maiores transformações deste arquétipo de Mãe colectiva, foi a da transmutação da fertilidade do corpo para a criatividade das ideias, sendo parteiras de vida, seja ela biológica das nossas entranhas, seja de projectos, ideias da nosso abstracto para o nosso concreto.
E a ponte, assim como Anaïs Nin a descreve, é feita: parimo-nos a nós próprias quando nos entregamos à febre criativa e reflexiva. A Fertilidade é conquistada como campo infinito fora da condição biológica de quem consegue ou não reproduzir-se.
Mas neste novo paradigma, onde o biológico é parte mas não base, onde fica o feminino? O conceito de fêmea? No limite desta visão, poderia ser acessório ou mesmo irrelevante?
Mas eis que no ato de, novamente, levantar os olhos para uma imagem de Nossa Senhora e perceber que continua a fazer sentido o feminino enquanto mapa biológico. O ritmo do abstracto não é o mesmo do concreto. E o concreto tem padrões que nos obrigam a olhar para o que de facto se manifesta. E hoje, o que se manifesta, é um padrão feminino de vulnerabilidade, de invisibilidade, roubado de um poder extraordinário. Esse desequilíbrio é reflectido no padrão dominador, que do outro lado, dependente deste feminino para se conceber e manter.
E nesta espiral de ideias que corre até o real nos fugir de vista novamente no jogo de espelhos que é o reflexo do universo a partir das nossas percepções e narrativas, olho novamente para uma imagem como a de Fátima, toda ela impávida e serena na sua existência mitológica, e sei que ela move milhões. Milhões dependem dela enquanto conceito operacional todos os dias.
Temos que reconhecer o seu trabalho e a ansiedade nascida da sua necessidade. Talvez reinterpretar os seus mitos e o seu protagonismo para que nos mapeie no tempo em que vivemos. Talvez esse trabalho seja possível para quem venha do Paganismo, e que procure padrões colectivos onde a devoção afunila para o particular.
O facto é que o padrão de procurarmos um colo feminino que assuma para si a guarda e o sustento do colectivo universal está presente hoje como estava há muitos ontens atrás.
Entre Ninhursag e Nossa Senhora do Monte, tempo e civilizações as separam, mas é na terra que representam e nas gentes que as adoram que são a mesma.
Referências
Anaïs Nin - Sobre a Febre de Criarhttps://youtu.be/UwP9qx4A9Lw
https://www.academia.edu/8256850/The_World_of_the_Sumerian_Mother_Goddess_An_Interpretation_of_Her_Myths
Maria no Cristianismo
Foto da Nossa Senhora do Monte (Santarém) retirada a 09/06/2020 de:
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