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 O Solstício aproxima-se e o padrão dá nos força para continuarmos à procura da luz.

A cria já percebeu que esta época lhe traz benefícios variados que vão desde a decoração de todas as árvores de natal da família (bolinhas brilhantes e fitas espampanantes?! como assim?! Tudo DELA!), panquecas ao lanche, músicas de natal ("os caricas" a conta gotas porque preferimos vozes de veludo como Sinatra e o Nat King Cole), e uma expectativa palpável quando uma palavra particular é sussurrada numa conversa perto destes pequeninos ouvidos: presentes. É inevitável a loucura. Sim, vou lhe falando do solstício, da festa do inverno, do sol pequenino que vai nascer em breve, do ano velho que usa como nome de código "pai natal" e que traz um saco com coisas boas, mas sei perfeitamente que esta ágil mente de 2 anos tem o seu foco bem afinado. Para além desta loucura no meio de luzes coloridas, renas, elfos, barbudos com chapéu vermelho, e ESTRELAS (de longe as favoritas), as noites apressam-se e demoram-se e as nossas manhãs de fins de semana estendem-se também porque saltar do quentinho quando faz frio não desperta pressa.

Este ano, as atividades de solstício vão envolver histórias tanto do sol como da nossa família (directa e adquirida de coração cheio) que mudou de plano e que nos ensinou o seu valor, o mesmo que nos cabe passar a quem seguirá à nossa frente. Este ano, abraçamos a luz com noção que somos nós que carregamos a tocha do exemplo daqui para a frente porque a presença se fez memória e a luz nunca será menor do que a que nos iluminou sempre.

E vamos ter arroz doce na mesa. E vamos ter sonhos e azevias. E vamos ter brindes de coração na garganta. E vamos acordar em nós o fogo que só quando invocamos os laços que nos unem nos incendeia e mostra o caminho que estamos a fazer.

E porque esta é uma altura de festejos com muita doçaria típica portuguesa (seja ela louvada em nome de todos os Deuses!), é bom equilibrarmos a coisa com alternativas mais leves. Deixo aqui a minha receita de panquecas sem glúten (se a quiserem mesmo vegan, troquem o ovo por semente de linhaça triturada):

1 ovo (ou 1 colher e sopa de linhaça por cada 2 e 1/2 de água)

Amido de Milho (farinha maizena)

Cacau amargo em pó

Pepitas de cacau cru

Flocos de aveia (opcional mas que, ainda que tenham glúten, dão um crocante interessante à panqueca)

Açúcar de côco

Bebida vegetal à escolha

Óleo de côco

Instruções: misturar os ingredientes (excepto o óleo)  com feeling batendo bem para que não fique com grumos. Aquecer uma frigideira besuntada levemente com o óleo e dispor da massa como e quiser (uma panqueca grande? várias pequeninas? o céu é o limite...por falar em céu, deixem uma janela aberta na cozinha durante a confecção).

Aproveitem enquanto quentes!

Boas Festas a Todos e a Todas!


Referências:

A tradição italiana da Bruxa Befana na Árvore

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Tenho metade do meu coração debaixo de terra.

Tenho metade do meu coração a alimentar a terra em que me tornei.
Tenho memórias que ardem no peito sem o vosso peito para as consolar.
Nunca estive aqui. Nunca estive sem vocês.
Tudo o que tornaram familiar agora é estranho porque as vossas mãos já não nos seguram.
Já não me posso encostar às raízes, porque agora sou eu o tronco que nutre os rebentos.
Vou partilhar o resto da minha vida com as vossas sombras, porque se a vossa essência mudou, a minha que vos pertencia mudou convosco.
Tenho-me debaixo de terra.
Tenho-me a alimentar a terra em que me tornei.
Sou-vos tudo o que me foram. 
Serei tudo o que tiver de ser.
Ensinaram-me o sol e hoje aprendo-vos na lua.
Somos debaixo da terra.
Somos ao peito nas memórias.
Somos nos rebentos que crescem.

Tens as mãos frias meu amor.
Vamos resolver isso.

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A Noite dos Ancestrais criou expectativas cá em casa e o "Halloween" já significa atividade diferente: castelos, morcegos, fantasmas, esqueletos, monstros, caldeirões e (sobretudo!) abóboras com caras!

A cria já percebeu que esta cena do "Halloween" dá para tirar as pinturas da caixa, (re)talhar laranjas, e brincar com bruxas de meias às riscas e chapéus bicudos.
As refeições temáticas dão-lhe o sabor extra e monstros de maçã com olhos de mirtilo estão a tornar-se "A" sobremesa.
Esta altura do ano é sempre uma altura de segurar portas e mantê-las abertas o suficiente para que o trabalho possa ser feito com todos. Custa e esgota as reservas de energia até ao tutano. Mas somos porteiros porque estamos vivos. Nós podemos acolher e receber, pôr mais um lugar à mesa, ensinar os nomes de quem partiu e contar as suas histórias a quem nasceu depois. Nós somos quem assiste à memória que mantém a porta aberta para que quem partiu se sinta sempre bem vindo.
Neste Dia de Finados, em que no nosso território se faz a visita às pedras onde os (n)ossos repousam, o tempo pausa, e o passado faz-se presente.
Hoje, do meu coração para o eco dos corações que já não batem, eu faço da recordação o chão e a raiz que sustenta a casa da minha família.
Hoje, aproveito a viragem desta Roda para limpar no fogo o que não cabe no meu futuro, e incendeio o que quero que preencha esse espaço nesta Roda que recomeça. Porque todo o fim é um princípio.
E entre cogumelos caveira, e sepulturas de chocolate, brindamos alto e brindamos muito, às linhagens, aos heróis, aos modelos de amor, aos amados e amadas, às cicatrizes partilhadas...ao encontro depois da despedida.
E depois de cansarmos o corpo na festa da noite, a alma pousa e contempla o tempo imparável. O Outono corre para o Inverno. O sol nasce e  desce mais cedo. A luz da vela dança no altar iluminando os sorrisos nas fotografias que quem nos ensinou a sorrir. E tudo corre.
Aos Finados, aos Nascidos e aos Porteiros: Bem Vindos, hoje e sempre.
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Somos as histórias que contamos para dentro e para fora.
Somos as histórias que aceitamos ser.
Da próxima vez que ouvirem alguém contar a história de família, onde mais de 10 irmãos foram criados para herdarem uma visão, um terreno, uma empresa, perguntem sobre as mulheres dessa linhagem. Pela mulher que pariu 14 vezes. Pelas mulheres a quem foi negado os estudos. Pelas mulheres que foram casadas com parceiros de negócios que tomaram as heranças que eventualmente teriam. Convido-vos a procurarem as histórias suprimidas dos mitos familiares. Convido-vos a mergulhar nesse desconforto. Talvez tenham, em paralelo com o patriarca da família, o lugar da matriarca rígida, amarga, seca e pouco afetiva. Não acredito que as histórias que descubram as desculpem de feridas causadas a partir dos papéis que ocuparam nas famílias que sustentaram, mas pelo menos hão de dar contexto, e uma empatia que as torne mais humanas e próximas de nós. Quando vejo mulheres a falarem das histórias familiares a mencionarem os avôs, os pais, os homens extraordinários que construíram mundos e fundos, eu penso sempre nas mulheres em cima das quais essas vidas se sustiveram, das mulheres que sustentaram os sonhos que não os delas porque a elas não foi permitido. Das mulheres que tiveram que criar as 14 crias que nasceram do corpo delas, das lições amargas a explicar às meninas que não podiam esperar ser iguais aos meninos, das lições ainda mais amargas a explicar às mulheres que não iam onde os homens iam e que tinham de se contentar com o caminho atribuído (talvez sendo mães de mais 14). Convido-vos a pensarem nas histórias das mulheres que não vos foram contadas porque não tinham interesse em ser contadas. Porque não contavam importância. Só esta realidade é dilacerante. Tantas delas nem a escrever e ler foram ensinadas. Por tudo isso convido-vos a procurarem o que ficou por contar e talvez, até, encontrem os pedaços que vos ajudem a curar feridas que não sabem onde começaram.


À vossa memória, Silvina e Senhorinha.
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Filmes Pagan Friendly são os filmes que tocam em temáticas pagãs e as trabalham de alguma forma. Esta é uma breve review de alguns que focam em especial a narrativa de protagonistas femininas, o que significa que a jornada da heroína vai ser semelhante em cada uma destas histórias, e ainda assim, cada uma delas vai enriquecer a narrativa da Heroína no seu Arquétipo Feminino.




Brave - explorar a relação entre mãe e filha, das expectativas de uma e a vontade própria da outra, rompe padrões de "feminino" reconhecendo autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas. Explora a dinâmica entre intenção e magia e quão fácil é cegar pelas emoções quando se deseja uma mudança rápida e o lidar com as consequências de mexer em magia de forma descuidada. 
Elementos pagãos: bruxas/bruxaria, as três fases da Deusa se observarmos a Donzela Merida, a Mãe Rainha Elinor e Anciã Bruxa (Crafty Wood Carver); antepassados; folclore mágico (wisps na floresta mágica).


Moana - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal, relação ternurenta da avó com a neta e a importância/força de conhecer e conectar com o passado e os antepassados. Explora o lugar das más decisões quando a carência e falta de autoestima dominam as ações, e as consequências delas. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ignorância causam. 
Elementos pagãos: culto dos antepassados; Deusa Criadora e Deusa Destruidora  (Te Fiti e Te Kā); Semideus Maui; Elemental Água. 


Frozen - explora a relação entre irmãs, mais do que as expectativas sociais, a confiança e o laço afectivo entre as duas, com uma delas a entregar-se na jornada do medo/poder/isolamento e a outra a entregar-se à jornada amor/esperança/sacrifício. Explora a vulnerabilidade do isolamento e o escalar de decisões baseadas nele. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: folclore mágico (Trolls); irmandade feminina; Elemental Água/Gelo (poderes da Elsa e Olaf).


No Frozen II a jornada amor/esperança/sacrifício de uma vai levar a outra à jornada medo/confiança/coragem. Explora também os erros do passado e as consequências e resolução no presente, o que em particular cai em cima de um trabalho de geração para geração. Explora a dor da perda e do lugar da autonomia mesmo entre relações próximas como as de irmãs. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: Elemental Fogo Elemental Terra, Elemental Água, Elemental Ar e o Elemento Gelo como o Espírito que une todos (Elsa e Olaf); folclore mágico; floresta mágica; antepassados; irmandade feminina; e a segunda melhor música com letra pagã de sempre (!)"All is Found".



Pocahontas - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal que torna o rompimento com a primeira inevitável, e escala a narrativa até a autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas ser reconhecida. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ganância causam. Explora a relação mágica orgânica entre a tribo e a natureza (Avó Willow).
Elementos pagãos: folclore mágico, princípios de respeito, irmandade, e equilíbrio perante o mundo natural. E a primeira melhor música com letra pagã de sempre "Colors of the Wind"!


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A dor da perda é uma fome virada para dentro. A dor torna-nos autofágicos. Consumimos as nossas memórias, as conversas que tiveram connosco, a desorientação que se abate na nossa ideia de nós próprios e da nossa vida sem... A dor consome-nos oxigénio dos nossos pulmões em esforço por respirarem por dois (por quem fica e porque foi). A impotência abraça-nos num pânico baixinho que cala a vontade de revolta ao mesmo tempo que amamenta a frustração. Somos feitos da carne que comemos quando estamos em sofrimento.
Na universo dos esoterismos, em especial no ocidente, fala-se muito em mistérios e conhecimento pautados por ciclos de renascimento. O Homem que acorda novo. A Mulher que acorda renovada. Estes estados de consciência alcançam-se muitas vezes da sequência sinuosa de aprendizagens das quais resulta uma morte (simbólica no físico, literal no espiritual) que levará o neófito/aprendiz/não iniciado a experimentar uma realidade nova, na qual ele vive e reclama esse recomeço voluntário de vida, esse renascimento prenhe de potencial que o aproximará das verdades essenciais que só se revelam quando tudo o resto que não interessa se anula ante o conceito da mortalidade enquanto ferramenta desejada, enquanto porta de renascimento.
Fala-se muito da dádiva da vida que inicia os mistérios dos que trilham as aspirações espirituais.
Falo-vos hoje da dádiva da morte não desejada, que nos inicia em consonância com a vida, e que nos leva aos outros mistérios, mais dolorosos, que nos transformam e impactam para o resto das nossas existências.
Perder quem amamos. Perdermos quem protagoniza papéis inquestionáveis na nossa vida. Quem, de tanto estar presente e/ou de tanta presença importante que teve, se enraizou na nossa vida, na nossa identidade, na nossa realidade concreta e abstracta, cuja voz ouvimos constantemente quando nos lembramos de quem somos e de quem queremos ser.
Perder quem amamos é uma merda. E é também, um ritual de iniciação profundo.
Nunca escolhemos esta via iniciatória porque o seu custo é tremendo, o caminho é penoso, as memórias ardem ácidas e geladas, a frustração arranha a garganta seca, a nossa cabeça lateja o peito que em fúria se debate e os nossos olhos procuram o alívio da saída de emergência. Não há. A revolta nasce na normalidade do que nos rodeia, e mesmo os toques pacíficos de quem empatiza são sal em ferida aberta na nossa incapacidade de alterar e reverter a dor. Não há reversão. E procuras quem se lembra. E procuras as histórias. E procuras invocar TUDO para que a dor se entorpeça por momentos. E lembras e ris. E dói. E a mortalidade pesa. E o silêncio que antecede a morte instala-se. E o ritmo normaliza impune. E o ar volta a aquecer lentamente. E o neófito escolhe: morrer com a morte ou matá-la. Voltar para trás não é possível. E para a frente, um tipo de orfandade nos espera. Matar ou morrer. E a escolha é feita, lentamente, várias vezes durante o dia. Todos os dias depois deste. E a morte do mistério vai se tornar a família que se perdeu. E a vida que aurora traz, é nossa de novo. E a dor que separa a carne do osso, dá-te à luz sempre que te lembrares que quem te iniciou morre para que tu voltes a nascer.

Hoje e sempre meu amor. Hoje e sempre.
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Halloween e um andarilho de criança. É ela. Ela é que andarilha. Por todo o lado da casa! Desafios quotidianos: objectos de risco ao alcance das mãozinhas, caudas incautas de gatos distraídos puxadas sem dó, prateleiras rasteirinhas com objectos que se desfazem em cacos (descacam, portanto) quando em contacto abrupto com o chão, tecidos pendentes de superfícies várias que convidam ao puxão e ribombantes consequências gravitacionais...que se poderão descacar. Desafios acrescidos nesta altura da Roda do Ano: Halloween + enfeites + decor temático + andarilha =...muita reflexão e pesquisa interior relativamente ao sentido da nossa vida no geral e do universo no particular. Vou ser honesta, sou francamente fanzoca do universo halloweenesco. Para lá de fanzoca. Bruxas andrajosas, caldeirões borbulhantes, esqueletos dançantes, caveiras cavernosas, ossinhos e ossadas, aranhas trôpegas várias, morcegos orelhudos, chapéus bicudos, olhos suspeitos, dedos soltos, vampiros dentados, abóboras sinistras, lobisomens pouco tosquiados, múmias mal enroladas, zombies emos, fantasmas por passar a ferro, lápides com piadolas, luas cheias nubladas e  teias de aranha por toda a casa!!! Toda!! Faço questão de passar o resto do ano até Setembro seguinte a apanhar teia perdida por todos os cantos e recantos. Mas o problema mantém-se: cria que anda e destramente apanha coisas. Por cima desta condição, tenho as circunstâncias da vida que me levaram a adquirir e coleccionar inúmeros (inúmeros!) adereços de decor pequenos e potencialmente perigosos (desde que saí da terrinha, vivi sempre em apartamentos com espaço limitado), a saber: esqueletos miniatura, aranhas e aranhinhas, abóboras e abóborinhas, olhos em formato de bola ping pong, dedos unharentos, velas e velinhas...enfim, tudo material pequeno o suficiente para ser arrebanhado e levado àquela santa boquinha ou perigoso para deixar mazelas. Estou de momento a reavaliar a situação e ponderar alternativas ajustadas a estas circunstâncias. Uma palavra tem gritado segurança: Paredes. Se cingir o decor às paredes, pode ser que o decor se safe. E estou seriamente a considerar uma ode ao Halloween aéreo este ano: morcegos, fantasmas, corvos e corujas agoirentos, bruxas em vassouras voadoras, a bela da lua cheia... Enfim, a criatividade como ferramenta de ajuste seguro e confortável. E perguntam vocês, "Mas mãe pagã, e moderares o decor este ano no Hallow..." NUNCA!! 
Hei-de varrer todo o prego desprevenido pelas paredes cá de casa, cada topo de móvel, cada candeeiro ou varão de cortinados.
Quando tiver mais resultados desta aventura, partilharei fotos. Até lá, despedidas fantasmagóricas à prova de crianças.

Notas: vou deixar links de alguns templates de Halloween ou ideias de decor criativas e amigas das crianças no "Mais sobre" desta crónica. Porque nós, mães e pais, merecemos.


Mais sobre...

Templates Halloween:






Pinterest Halloween:





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Carta deste Solstício de Verão à minha Filha:

Meu amor bom, este Solstício foi passado a correr. Ainda mais tendo sido dia de vacinas para ti. Mas, ainda que tenham sido picadas meio à traição, os beijinhos, colo e mama sempre consolaram esse beicinho.
O Sol chegou ao seu apogeu e tu, ao teu ritmo maravilhoso, tornas-te cada dia mais tua, mais menina, mais senhora do teu nariz. Nesta estação, eu e o Papá queremos dar-te a experiência da praia, da areia e do mar, do cheiro da sardinha, do vento na serra e no moinho, do bailarico, do pão e dos pés (teus) em todo o lado! Agora que o poder do sol reina, a natureza caminha para as colheitas e nós tencionamos colher da nossa família cada polaroid e palhaçada disponível. A gataria já está em modo veraneio e a busca pelos espaços frescos para bater sestas subiu de nível (e de pêlo...muito pêlo pela casa). Até tu, meu amor, já representas toda uma nova presença nesta casa, perseguindo as duas caudas incautas que dormem pelos cantos e que fogem ao primeiro (e inesperado) puxão dessas mãozinhas. Espera-te também, fruta nova no menu. O Papá vai dar-te morangos no terraço dos bisavós e a Mamã vai apanhar figos contigo. Vais ouvir muitas histórias ( para além do "Onde está o Bolinha?") e roer tudo o que conseguires. ELO e Beatles, Joni Mitchel e Joan Baez estarão entre muitos outros na tua banda sonora. Vais ver flores, cheirar lavanda e alecrim, apanhar pétalas de rosa e tentar comê-las. Vais ver o primo, os primos, as primas, a tia, o tio, os avós, e dormir sestas sempre que possível (!!!). Este verão é nosso para viver e acrescentar no livro das nossas vidas contigo. Sob a bênção de Utu, de Lugh, da luz que nos céus reina e a terra coroa, somos nós abençoados com os teu olhos brilhantes e o teu sorriso de aurora.

Feliz Verão para ti e para nós meu amor*

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Primeira crónica da Primavera (entretanto com celebração de Equinócio, Akitu Sumério e 10 meses de coração e fraldas cheios), e quero agradecer à Filipa Urbano (administradora do Coven da Lua e do Sol) que lançou a reflexão desta temática inevitável em casa de qualquer bruxa: cadê o meu altar?
Muitos e muitas de nós descobrem o Paganismo e a Bruxaria algures na adolescência ou na transição para o posto de adulto. Nestas circunstâncias, a norma é, nessa fase de vida, termos um espaço nosso, com relativa privacidade, onde nos apressamos a experimentar círculos, rituais e magia. Ou seja, para muitos de nós, a prática começa no nosso quarto, no primeiro universo pessoal que controlamos.
Uma das necessidades mais naturais de se explorar quando entramos neste caminho é o de erigir um altar nosso, pela nossa mão e vontade.  Varremos, entretanto, imagens na internet e nos livros (hábito que nos vai acompanhar no futuro) com altares, decorações e disposições de rito.
Lemos sobre o assunto, perguntamos a quem partilha connosco o caminho, e vamos experimentando os elementos com os quais compomos esse projecto magnifico que é um acto mágico por si só. Os nossos altares, regra geral, vão mudando com o tempo. Vão acompanhando os nossos gostos, as nossas sensibilidades, as nossas aprendizagens, os nossos interesses e descobertas pessoais e espirituais. Posso dizer-vos que o meu primeiro altar fixo era o maior que consegui arranjar na altura (uma secretária comprida de madeira com gavetas) e nele eu punha..TUDO.
Agora lembro-me do aspecto e rio. Sei que tinha a sorte de ter, na altura, um escritório só usado por mim, onde ano após ano rodava e celebrava os ciclos e a magia de forma solitária. Não era incomodada (mais um luxo). Esses anos adolescentes foram pivotais na minha experiência no Paganismo. Quando saí do secundário vivi 4 anos numa casa com um quarto que partilhava com outra pessoa. Não montei altar nessa casa e essa quebra foi difícil (para mim o meu altar ficou no meu escritório). E agora em retrospectiva essa circunstância pode ter-me disposto a trabalhar em grupo em vez de solitária, o que aconteceu até 2010. Nesse ano, mudei de casa e pela primeira vez voltei a ter altar no meu espaço doméstico! Tinha-o no corredor, confesso, mas porque vivi sozinha nesses abençoados 9 meses. Depois desse período feliz, mudei de casa novamente e voltei a ficar órfã de altar em casa. Mais uma vez investi em trabalho associativo e com o grupo que na altura tinha à disposição. Depois de um ano entrei, finalmente, na casa que seria o meu lar (só tinha lar na minha terrinha, esta realização foi inédita) durante 4 anos. Aí, o meu altar instalou-se na minha mesa de cabeceira onde fomos os dois muito felizes, e onde retomei a minha prática solitária pela primeira vez, em paralelo com a de grupo. Nesses 4 anos conheci e dediquei-me a Inanna. E depois algo extraordinário aconteceu e eu pela primeira vez encontrei alguém com quis viver e mudei-me malas e altar, para o bairro que seria a nossa casa durante quase 2 anos. Aí, também pela primeira vez, o meu altar solitário deixou de ser suficiente. Lembro-me de ter percebido isso, com uma sensação de não encaixar como encaixava. As minhas práticas solitárias também me deixavam esse sabor na boca e questionei-me sobre o motivo por de trás. Pensei que, como a minha realidade tinha transitado de solteira para casal, o meu altar, como espelho da minha alma, precisava de reflectir esta nova vida. Pensei no quão desafiante era estar a viver em casal com alguém que não é pagão, alguém que nunca tinha tido nem um altar nem uma bruxa em casa. Foram reflexões e conversas que ia tendo comigo própria sobre o quão queria descobrir a forma de harmonizar tudo o que compunha a minha vida na altura. Depois de algumas experiências descobri que ter dois altares me permitia conciliar com algum conforto a egrégora da minha casa nova. Tinha um altar só meu, com a minha Senhora, e tinha um altar doméstico que continha elementos importantes para mim e para ele (que foi alinhando na proposta e acredito que hoje já seja uma parte natural da sua/nossa casa). Quando eu digo que um altar é um projecto mágico, estou a falar do exercício emotivo e focado do acto de escolher elementos que nos toquem, que evoquem sensações poderosas de felicidade e completude, inspiração e união, e de os reunir num espaço circunscrito, que vamos mantendo e carregando com as memórias que despertam e com novos elementos que adicionemos. Este é o projecto mágico que faz sentido ter no centro de um lar. Desta forma, ambos usamos e usufruímos do ato mágico, reconhecendo importância e o valor do que estamos a evocar com os elementos que dispomos.
Quando engravidei mudámos novamente de casa e agora temos dois factores que alteram tudo: a bebé e a gataria.
O altar da casa está agora no corredor, decorado com fotos da nossa família (a que vive deste e a que está no outro lado) e ao longo do ano as mudanças dão-se com a decoração com flores, incenso, abóboras, velas, o caldeiro no chão e as eventuais oferendas na altura de Samhain. Este formato de facto funciona. Para nós o mais sagrado é a família e o tom central do nosso altar partilhado é o da união.
De momento, nem gatos nem filhota implicam muito com o altar da casa (uns porque não encontram comida lá em cima, outra porque não anda ainda....). Sei, sabemos, que vai chegar o dia em que o altar vai ter de se tornar mais baby friendly, o que eu considero ser um investimento numa arca com fecho onde possa guardar das mãos pequeninas tudo o que possa ser usado contra elas. Imagino que a altura do Samhain vá ser a de mais cuidados e alerta, mas vou pondo-vos ao corrente nestas aprendizagens que se avizinham.
Mas e o meu altar pessoal?...pois...bebé em casa... o meu último desafio. Quando viemos as duas da maternidade o nosso quarto tornou-se ainda mais nosso e durante alguns meses todo (mas TODO) o espaço disponível era usado para arrumar e encaixar coisas da menina ou para a menina, ou que já não cabiam na menina. O meu roupeiro tornou-se o nosso roupeiro e entre as minhas camisas vivem vestidos dela. Muito do meu material de altar foi arrumado em caixas dentro do dito roupeiro e hoje ainda lá descansa boa parte dele. O meu altar pessoal foi levado para cima de uma cómoda mas a gataria já nos provou que quanto mais alto está o material, mais barulho faz quando o mandam ao chão (o susto às 3 da manhã quando fizeram oferendas voar pelo quarto todo). Portanto, de momento, estou a desenhar a próxima mudança do altar pessoal. Tem que ser à prova de gatos e bebés. Tem que estar perto de mim (até agora, o altar na minha cabeceira foi o que mais gostei de ter), e tem que reflectir a minha vida e circunstâncias actuais: simples, com os elementos essenciais e o resto sou eu que trabalho. Nada de decorações elaboradas (deixo essas para o altar de casa enquanto posso), e os instrumentos guardam-se depois de usados que os parvalhões não dão tréguas quando se põem a fazer sprints pela casa. Aliás, para quem não tem gatos em casa (não há altitude segura destes meninos), montar e manter o altar deve ser mais fácil (confesso que invejo um pouco essa liberdade), mas a nossa casa é esta e é esta a nossa família.
Pela minha experiência pessoal, o altar é um projecto poderoso e que aconselho a todos os que o possam criar. Sempre que precisei de trabalhar ritos ou magia, a comunicação com as pessoas em casa (sejam conjugues ou roomies), é essencial e algumas práticas são mais fáceis na solidão da casa (como limpezas energéticas e purificações). O altar da casa tem outro poder acrescido, o de permitir que a sacralidade e a magia percorram cada canto da casa impregnando-a com essa sensação de protecção e familiaridade. De facto, quando comecei a formar família (ainda antes da menina nascer), a minha intuição sensibilizou-me para o poder da magia de um trabalho doméstico (como um altar) que beneficia de forma natural uma casa que vibra à volta do valor e do projecto da união. Hoje quando olho para o nosso altar partilhado é isso mesmo que sinto. Se qualquer outra pessoa que o veja vai saber do que se trata? Depende do que saiba sobre nós antes de entrar na nossa casa. Para um olho distraído, trata-se de uma mesa, no corredor, com fotos no topo e uma caixa com uns incensos e um peluche tigre em cima. Para os mais atentos, há um caldeiro aos pés da mesa. Por estar num local de passagem e fora da vista da sala, provavelmente não se dá muito por ele. Mas se o altar não der a dica da bruxa que mora cá em casa, pode ser que a vassoura pendurada atrás da porta, cheia de ervas lavanda e alecrim, sirva de pista (ui o que esta vassoura sofre nas patas dos gatos...).
Acredito que o Paganismo nos sirva a nós e que nada nos obriga ou julga nas escolhas que fazemos com os recursos que temos quando a vontade é a melhor. E porque sei que este tema é caro em especial às pessoas que partilham casa, tanto com familiares (seja no estatuto de filhos ou de pais), como com companheiros de casa, posso afirmar com segurança, que o que for feito com empenho e amor, com empenho e amor será retribuído.
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Viver numa casa com diversidade de crenças é muitíssimo enriquecedor. Mas também é um compromisso eterno de empatia, respeito, humor, carinho, teimosia e paciência. Eterno. 
Dito isto, não trocaria a minha casa por nenhuma outra. Nenhuma. Com todas as correrias, discussões, subidas de escadas, limpeza por fazer, livros por arrumar, beijos apaixonados, beijinhos repenicados, canções (mal) cantadas, e baterias infernais a torturarem a nossa vizinhança. Não a troco por nadinha.
E sabem porquê? Porque sei que as diferenças (que as há!!! tantas!) residem nas crenças, não nos valores.
A minha casa funciona da seguinte forma: temas de interesse comuns são discutidos, debatidos, satirizados, desconstruídos, algures no meio os gatos fazem qualquer coisa que nos obriga a interromper e a correr com duas patas atrás de quatro, voltamos ao tema, alguém pergunta o que vamos jantar, faz-se uma piada sobre o assunto e acabamos a trocar a fralda à menina.
Em relação aos temas do foro religioso, pagão e ateu, o modus operandi é o seguinte: a mesmíssima coisa.
Este nosso processo deve-se a alguns factores relevantes, a saber: gostamos de rir, e quando um de nós leva coisas demasiado a sério (normalmente sou eu), o outro tem a obrigação de quebrar o siso com uma boa piada (as dad jokes abundam nestas assoalhadas); temos gatos em casa, o que leva à dificuldade orgânica de manter uma conversa longa ininterrupta sem perseguições sonoras a tampas, papel de alumínio ou ar; a menina é a melhor mediadora do mundo e sempre que as conversas/discussões se alongam, um simples olhar dela ou (e é fatal) um sorriso, e nós sabemos nos ossos quem tem os argumentos todos na mão...ela, que ganha, de bandeja, por nos lembrar que ela é a única razão verdadeiramente importante nas nossas existências.
Assim se entende, como é que alguém que acredita numa visão do universo composta por forças criadoras, Deuses, sabedoria ancestral e mitológica, magia e bruxaria, coabita com alguém que crê que a humanidade passa bem sem tudo isso se escolhesse bastar-se a si própria. Se é verdade que a minha visão pagã, abrange sem problema o valor da humanidade enquanto bússola dela própria, não é menos verdade que ele reconhece o valor de quem se pauta por uma crença religiosa ou espiritual que resulte numa pessoa integra, ética e consciente. Este é a verdadeira fórmula para boas relações: assumir que mais alto do que tudo está o respeito e os valores que temos (ter utopias em comum também pode ser divertido, mesmo que divirjam na origem).
E quando, por um ou outro motivo, as nossas diferenças criam sombras nas nossas ideias ansiosas pela vida perfeita, uma frase vos partilho que desarma qualquer ameaça nuclear: confia em mim, confia em ti e confia em nós. 
Há muitas escolhas que se fazem em e pela família, e todas elas pelo melhor. Paralelamente a estas, há todo um universo que não controlamos, que nos rodeia e vai dando cartas que temos de jogar queiramos nós ir a jogo ou não. Uma das escolhas que ajuda a gerir esta realidade paralela aos nossos desejos é a de o fazer em equipa. Este foi (tem sido) provavelmente o padrão mais difícil de romper nos meus hábitos. E na outra ponta desta minha circunstância está um "confia em nós" que nos convida a investir numa linguagem partilhada feita de experiências partilhadas (nunca subestimem o poder de união atrás de trocar fraldas cheirosas ou de estender roupa interior que não é vossa), onde episódios, fotos, música, refeições e gargalhadas reforçam a coesão da nossa casa. E respeitar as manias de cada um. Quem se acha meio tigre ou quem se acha devoto de Beatles, tem que ser respeitado e mimado.
Posso garantir-vos que nada nas crenças de uma e outra pessoa, condiciona um projecto comum, se estiverem preparados para assumir que mais alto do que as crenças, vive o objectivo da vida conjunta.
Relativamente à ideia de constituir uma família e organizar em casa um conselho executivo e pedagógico que oriente a educação das crias, asseguro que um "confia em nós" resolve 80% da coisa.
Os recursos dos quais dispomos são vários e, na verdade, o objectivo da educação é um só apenas: ajudar a criar um ser humano empático, ético, capaz de funcionar num mundo que precisa de melhorias urgentes (sempre!) e que possa confiar tanto em si como em nós e na nossa família. Se vamos envolver a criança nas nossas visões pessoais? Sim, vamos. Ela vai rodar com a mãe, cantar com a mãe, ouvir mitos com a mãe e aprender que há forças que se reverenciam quando as reconhecemos como fontes de aprendizagem e valor. Ela vai acompanhar o pai nas discussões e debates sobre o valor humano e a imensa capacidade que temos de suster ética e conscientemente o nosso caminho. E como não se pára de aprender, e as melhores relações são aquelas em que crescemos juntos cada um no seu processo, volto à primeira premissa desta crónica: viver numa casa diversa é  muitíssimo enriquecedor e, já agora, o título desta crónica devia ler-se "Mãe Pagã e Pai Ateu...e então?".


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Chegados à época festiva, para mais, o primeiro Inverno da minha filha, e o contexto cultural vai-se fazendo sentir.
É Natal.
Feliz Natal
Santo Natal.
Todas as músicas de Natal.
E eventualmente....começamos a ranger os dentes...
E a resmungar para dentro...
E a sentir uma vontade grande de ouvir Jethro Tull... Damh the Bard... Lorenna Mckennit...
E somos inundados com todas as imagens de anjos, bebés em manjedouras, reis magos com presentes de última hora (a sério Belchior, mirra?), enquanto tentamos seleccionar velas, renas sóbrias,  azevinho perene e flocos de neve que se pendurem à porta. 

O que significa ser-se pagão nesta altura?
O que muda e como?
Convido todos os pagãos que têm dificuldades nesta altura a observarem o macro do fenómeno: o Inverno chega e a terra comporta-se de acordo, virada para dentro, reservando a vida na profundidade das raízes ao abrigo dos ventos e chuvas frias. 
As narrativas desta altura constroem-se em cima do centro do lar: a lareira, esse símbolo de luz, conforto, alimento e segurança.
O fenómeno astronómico que se dá nesta época é o Solstício de Inverno. Este fenómeno vai ser observado por inúmeras tradições pagãs tais como o Yule e a Saturnália.
Pelo universo politeísta antigo, este padrão vai encontrar-se e desenhar uma celebração alargada pela chegada do Inverno, preenchida depois, em cada uma das tradições, com os seus personagens específicos.
No nosso ocidente, os elementos que marcam a chegada do Inverno são ilustrados em cenários de fauna e flora (renas na floresta de pinheiros coberta de neve) ou cenários domésticos centrados num foco de luz (seja uma lareira, uma árvore enfeitada de luzes, uma mesa iluminada e recheada de comida, velas, etc.). Estes são os elementos que fazem sentido nos nossos exercícios de sintonia com a época e que nos estão acessíveis para além de qualquer propriedade religiosa.

Pai de barbas brancas ou só um senhor com um saco que entra nas casas com crianças?

E entramos no reinado do Pai Natal. Pessoalmente, não vejo problema em olhar para o Pai Natal e identificá-lo como a entidade que representa o próprio Inverno (barbas brancas de neve, vestido com várias camadas de roupa polar por causa do frio) ou mesmo o próprio ano que morre/acaba. A lenda do Rei Carvalho e do Rei Azevinho, que se batalham a cada Solstício ganhando o Azevinho no Verão e o Carvalho no Inverno é também uma mitologia bonita de se integrar nesta altura. Há ainda espaço para o associar com as tradições nórdicas de Odin (que frequentemente se mascarava e visitava quem lhe abria a porta, recompensando os humildes e generosos e castigando quem não era hospitaleiro). Sou também fã da Santa Befana porque, não só me lembra da melhor que se come no Rossio como ecoa nas tradições italianas como folclore resistente: a senhora que viaja na noite de 6 de Janeiro deixando carvão nos sapatos de quem se portou mal  deixando doces nos sapatos de quem se portou bem. Além disso, ela viaja numa vassoura...sim...com este nível de óbvio. 

As árvens.

A árvore de natal é outro tópico incontornável da quadra. É uma árvore? É. Tem a ver com o Natal?... Mais ou menos....?
A construção da cultura natalícia foi conseguida com uma serie de sincretismos entre elementos interculturais e interreligiosos. Surpresos? Não deviam... Não há menção nenhuma de uma árvore da natividade nas escrituras... Mas, em termos de macro, mais uma vez, trazer uma representação da natureza que resiste durante o Inverno (o pinheiro é de folha perene) e cobri-la de luzes e enfeites (carregada de luz e brilho para atrair a luz do pequeno sol que renasce) é um gesto cheio de simbolismo e sentido para qualquer pessoa que tem os ciclos naturais como a referência maior de transcendência e sacralidade. A nossa árvore enfeitada tem adereços enviados pela minha mãe, uma foto da minha filha, e um boneco de barbas no seu topo. Há uma boneca Befana a pairar acima da árvore com um ar simpático agarrada à sua vassoura.

Consoadas felizes.

Jantar com as famílias, normalmente com elementos religiosos explicitamente conjugados nas festividades, e mais uma vez observamos o macro: é um festival que convida ao convívio saudável e à presença de familiares numa ocasião feliz. Independentemente das crenças e de quem as carrega, este é um momento de conciliação. Vamos ultrapassar a linguagem que temos como externa ao Paganismo e vamos ler a realidade como ela é. É Inverno. O frio chegou com toda a sua glória. As crianças resguardam-se mais e passam mais tempo dentro de portas. Isso significa que a casa vai abrigar a família inteira durante longos períodos de tempo. Conciliação é a palavra de ordem que vai permitir a família chegar à primavera inteira. Conciliação e cedência, já agora. Mas, divago. Consoada é a antecâmara para a festividade generalizada da família. Eu organizo-a ou frequento-a todos os anos com a minha família, seja do meu lado, seja do lado dele. E não me sinto minimamente em conflito com as minhas celebrações de Solstício. Adoro a minha família. Se há um dia em que todos se sintonizam a essa ideia de reunião e encontro, eu vou aproveitá-la. E quero que a  minha filha a viva também. São boas memórias e alicerçam as nossas relações de uma forma que ultrapassa as barreiras eventuais de ideologia, politica e religião. E essa é a mensagem que eu professo nesta altura do ano para mim e para a minha família.

Balanço da experiência

Como pagã, procuro ter em casa elementos com os quais identifico a minha ideia de celebração de Inverno e que se associam ao Inverno no geral e à energia da época no particular. Este ano, a casa foi povoada de barretes quentinhos, estrelas douradas, os sinos e sininhos, as corujas em raminhos (este ano isto aconteceu), luzinhas à volta do careto, velas e um homem de gengibre.
No Solstício brindei à noite mais longa do ano e celebrei-a num jantar com amigos da arte.
Na noite de 24 de Dezembro saudei a família presente e a antepassada e acolhi-os numa noite quente e feliz com as pessoas que amo.

Não tive que mudar nada à minha volta. Apenas de seleccionar o que quero que faça parte da minha experiência. Ou interpretar os elementos que me rodeia num sentido que me seja mais rico e familiar às minhas práticas e crenças. Acredito que este não tem de ser um tempo de antagonismo ou luta. É a estação do frio. Sobrevivemos se nos mantermos unidos. Assim a natureza o espelha.

Este primeiro Inverno foi esgotante porque fomos os anfitriões. Mas foi uma experiência única e maravilhosa com todos e todas à mesa, no sofá, pelo chão, e dentro das caixas vazias (estou a ver-vos, gataria).

Foi importante para nós marcar este momento. Foi importante para nós receber a nossa família com a nossa filha. É importante para nós, manter as tradições que nos aproximam das pessoas que amamos.

E como pagã, carregar a minha casa com estas memórias e com esta energia é uma experiência poderosa e sagrada.

Mais informação sobre:

Yule

Saturnália

Befana

Árvore de Natal

Tradições Pagãs no Natal
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