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Filmes Pagan Friendly são os filmes que tocam em temáticas pagãs e as trabalham de alguma forma. Esta é uma breve review de alguns que focam em especial a narrativa de protagonistas femininas, o que significa que a jornada da heroína vai ser semelhante em cada uma destas histórias, e ainda assim, cada uma delas vai enriquecer a narrativa da Heroína no seu Arquétipo Feminino.




Brave - explorar a relação entre mãe e filha, das expectativas de uma e a vontade própria da outra, rompe padrões de "feminino" reconhecendo autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas. Explora a dinâmica entre intenção e magia e quão fácil é cegar pelas emoções quando se deseja uma mudança rápida e o lidar com as consequências de mexer em magia de forma descuidada. 
Elementos pagãos: bruxas/bruxaria, as três fases da Deusa se observarmos a Donzela Merida, a Mãe Rainha Elinor e Anciã Bruxa (Crafty Wood Carver); antepassados; folclore mágico (wisps na floresta mágica).


Moana - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal, relação ternurenta da avó com a neta e a importância/força de conhecer e conectar com o passado e os antepassados. Explora o lugar das más decisões quando a carência e falta de autoestima dominam as ações, e as consequências delas. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ignorância causam. 
Elementos pagãos: culto dos antepassados; Deusa Criadora e Deusa Destruidora  (Te Fiti e Te Kā); Semideus Maui; Elemental Água. 


Frozen - explora a relação entre irmãs, mais do que as expectativas sociais, a confiança e o laço afectivo entre as duas, com uma delas a entregar-se na jornada do medo/poder/isolamento e a outra a entregar-se à jornada amor/esperança/sacrifício. Explora a vulnerabilidade do isolamento e o escalar de decisões baseadas nele. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: folclore mágico (Trolls); irmandade feminina; Elemental Água/Gelo (poderes da Elsa e Olaf).


No Frozen II a jornada amor/esperança/sacrifício de uma vai levar a outra à jornada medo/confiança/coragem. Explora também os erros do passado e as consequências e resolução no presente, o que em particular cai em cima de um trabalho de geração para geração. Explora a dor da perda e do lugar da autonomia mesmo entre relações próximas como as de irmãs. E o Olaf é espectacular!
Elementos pagãos: Elemental Fogo Elemental Terra, Elemental Água, Elemental Ar e o Elemento Gelo como o Espírito que une todos (Elsa e Olaf); folclore mágico; floresta mágica; antepassados; irmandade feminina; e a segunda melhor música com letra pagã de sempre (!)"All is Found".



Pocahontas - explora a relação das expectativas sociais e a paixão pessoal que torna o rompimento com a primeira inevitável, e escala a narrativa até a autonomia e autodeterminação na jovem sobre a sua vida e as suas escolhas ser reconhecida. Explora o lugar e a coragem do perdão e da compreensão para emendar o que o egoísmo e a ganância causam. Explora a relação mágica orgânica entre a tribo e a natureza (Avó Willow).
Elementos pagãos: folclore mágico, princípios de respeito, irmandade, e equilíbrio perante o mundo natural. E a primeira melhor música com letra pagã de sempre "Colors of the Wind"!


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Sou Pagã criada em contexto católico, como tantos de nós. Mas conheço famílias pagãs que criaram crianças, agora adultas, num contexto pagão. Estas crianças rodaram nas celebrações sazonais, participaram em actividades com outras famílias pagãs, visitaram templos, levaram oferendas, cantaram com os pais cânticos em rito e correram por pedras, árvores e altares. 
Como Pagã, considero esta experiência extraordinária, porque a minha vivência foi muito diferente. Enquanto Mãe, considero com interesse este caminho, mas com a mesma força que quero que a minha filha tenha a oportunidade de explorar de uma forma livre o meu contexto religioso, quero também que ela não se limite a esta percepção. Quero que explore o sagrado de forma livre. Quero, sobretudo, que ela um dia entenda que nesse sagrado não há caminhos falsos ou verdadeiros. Quero que ela um dia entenda que a mãe trabalha de uma forma a sua vida religiosa, e que o pai se posiciona de outra forma muito diferente perante essa realidade e que isso é uma coisa boa. Quero, muito, que ela um dia sinta confiança para fazer as suas escolhas, e que reconheça essa liberdade nos outros.
Vejo muitos pais e mães pagãs a pensarem na educação das suas crias de uma forma adaptativa  e adaptável, e acredito que esse esforço e essa consciência são de louvar. Porque se é verdade que queremos que os nossos filhos construam uma relação equilibrada com o mundo à sua volta, então temos de assumir que há um universo que não vai partilhar da nossa forma de ver o mundo e que isso não é uma coisa que se negue. Essa realidade tem que ser trabalhada e assumida: a realidade que não tem como principal referência as nossas crenças. Dito isto, as nossas crenças vão naturalmente enriquecer as nossas vidas em família e se tivermos oportunidade de levarmos as crias ao Cromeleque dos Almendres, vamos deixá-las correr no meio dos menires e citar o Astérix como estímulo de leitura. Vamos contar lendas e mitos sobre rios, cavernas e montanhas e pôr no frigorífico os desenhos com o sol. Vamos acender velas e lembrá-las constantemente para não queimarem o disfarce de Halloween. Vamos reciclar com elas e lembrar o resto da família para a importância da ecologia. Vamos ensinar-lhes que as oferendas são deixadas no altar e que os gatos vão tentar comê-las se nós deixarmos.
Se vai ser fácil ver toda a cultura, discurso, conceitos e mitologias que não são as nossas a rodear e a envolver a nossa família, não. Até porque a realidade religiosa para muitas pessoas não passa pela curiosidade ou conhecimento sobre mais do que o se acessou durante a sua criação. Podemos e devemos abordar esta questão da necessidade de literacia religiosa e espiritual, sim, porque é uma carência na nossa sociedade e devemos lutar pela informação e respeito relativamente ao Paganismo e todas as outras estrutura de crença. Esse é também um papel que é vivido por muitos pais pagãos, o de educar as pessoas à nossa volta para a realidade das crenças fora do padrão e formato da norma (monoteísta no geral e cristão em particular porque, há que assumir, esta é a nossa cultura).
Ser apto neste tempo, para mim, é ser adaptável e activista. Adaptável porque a realidade que temos é esta e eu tenho que lidar com ela como ela se me apresenta, por mais que me agrade ou não. Activista porque tenho a responsabilidade de alterar a realidade onde posso para a tornar melhor, e vinda de um contexto religioso tão diferente como o meu, cabe-me começar pela informação e pela defesa dos direitos que me permitem assumir  as minhas diferenças: liberdade religiosa e liberdade de expressão.
Todo o pagão deve trabalhar para a realidade destes direitos. E quando digo trabalhar, não estou a implicar o trabalho político directo na Assembleia em São Bento. Participar no processo político é importante (eleger quem nos representa com objectivo de vermos os nossos direitos defendidos é essencial em democracia), mas há tanto por onde podemos começar: envolvermo-nos com iniciativas de diálogo interreligioso (há grupos no facebook e instituições governamentais que se dedicam a este tema), participar nas actividades culturais promovidas pelas entidades locais (existem mais comunidades na nossa zona do que sonhamos, acreditem), sugerir actividades interculturais e interreligiosas nas escolas das nossas crianças (e participar nelas de forma interessada)...até uma pequena conversa de café com amigos e familiares pode resultar num momento informativo importante. Sim, ser-se gentil e compassivo, demonstrando respeito pelas pessoas à nossa volta, é muitas vezes um ato de heroísmo perante as realidades que excluem e isolam o que é diferente.
Sinto que é importante conhecer o que me rodeia para falar do que me é importante, e passar valores à minha filha é vital para mim. Os nossos filhos vão aprender com aquilo que nós fazemos, com o que nós assumimos como relevante. A forma como nos observam nesta dinâmica do ser-se diferente numa realidade diversa vai ser a referência deles no futuro.
Quero muito que a minha filha celebre a Roda do Ano comigo. Quero muito que ela entenda que nem toda a gente vai saber o que é uma Roda do Ano. Quero que ela demonstre curiosidade sobre as Rodas dos Anos que ela não conheça. Quero que ela respeite essa diferença e que dê valor a essa liberdade.
Adaptar é essencial para se viver num mundo que não escolhemos, mas defender e trabalhar de forma cooperativa para o mundo que queremos, mais do que sobrevivência, é evolução. 



Nota: "Darwin e o Paganismo" é a primeira crónica de duas dedicadas à parentalidade pagã, a segunda, "Rodar em Família", pode ser lida aqui.



Mais sobre

Pagãos em diálogo interreligioso:
https://www.patheos.com/blogs/agora/2013/02/making-light-interfaith-is-not-a-dirty-word/

Darwin
https://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/bioselecaonatural2.php

Liberdade de Expressão
https://www.direitosedeveres.pt/q/constituicao-politica-e-sociedade/liberdade-de-expressao/o-que-significa-a-liberdade-de-expressao-que-a-lei-portuguesa-consagra-quais-sao-os-seus-limites
http://bdjur.almedina.net/item.php?field=node_id&value=295787

Liberdade Religiosa
https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/72988783/201412310000/indice


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