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Rodar em Família


Mãos na massa. Darmos contexto às nossas crias é importante e criar e manter uma relação interessada e inclusiva com as realidades não pagãs é essencial (vide sobre esta temática aqui).
Mas, da nossa parte, que práticas? O que se pode ensinar às crianças e jovens? O que partilhar com as novas gerações? Não será doutrina ensinar às crianças demasiado cedo, antes de poderem escolher por elas?
Cá vai uma possível resposta. Sim. Devemos incluir as crianças nas nossas actividades em família ou em grupo e desenvolver actividades só, com e para elas. A natureza odeia vácuo. Onde não houver informação de referência, ou vivência, mais tarde ou mais cedo será preenchido por outras informações ou vivências. Como foram os nossos valores que nos levaram até ao Paganismo, podemos confiar que as crianças retirem do Paganismo valores e lições importantes para a vida. Essa bagagem existe e está-nos acessível. Então porque é que sentimos constrangimento quando pensamos em "catequese pagã"? Porque a maioria de nós encontrou o Paganismo enquanto adulto, e com uma personalidade já estruturada (daí que tantos de nós digam que "se descobriram no Paganismo" em vez de "se tornarem Pagãos"), e sendo essa a norma, a cultura de actividades pagãs está naturalmente mais virada para uma população adulta. Outro factor é o da ideia de liberdade, tão querida a tantos no Paganismo, que nesta cultura secular constringe-nos a acreditar que religião é para adultos que a escolham e se responsabilizem por ela, e que a diferenciem do universo não religioso. Se é verdade que a responsabilidade de se reconhecer a realidade religiosa e a realidade não religiosa tem de ser transmitida às novas gerações, também é verdade que o formato religioso, bem medido (que é como se quer), serve de veículo para os valores tais como: liberdade de pensamento, liberdade de crença expressão, respeito, compaixão, inclusão, diversidade, amizade, responsabilidade, entre outros. Sim. Estes valores podem ser transmitidos numa abordagem pagã. Mas a abordagem vale enquanto caminho para o destino que é uma consciência de si e do outro.
E assim, ensinarmos o valor da partilha através de um mito antigo, torna-se um recurso precioso nos momentos em família.
Outro recurso valiosíssimo é o da experiência natural. Explorar e descobrir o mundo da natureza é uma sala de aula extraordinária e de infinitas possibilidades. Apanhar folhas, pedras, galhos e ervas, observar caracóis, árvores, flores, é viver um encanto eterno no acto de mostrar o mundo às crianças. Levá-las ao mar, deixá-las correr e brincar na areia, experimentar o vento na cara e nos cabelos (perseguir chapéus a voar faz parte da magia), e assumir que se vai levar muita coisa para casa na sequência destas frases "olha! é tão bonito!", "fui eu que apanhei!" e o mais directo "toma..".
Explorar o mundo natural é uma escola que nos permite conhecer mistérios como o dos ciclos do sol, da lua, das mudanças sazonais, do nascimento, crescimento, morte e renascimento. E cada um destas lições, convida-nos a partilhar a noção de continuidade, de macro, meso e micro cosmos, de ordem e leis universais. Estas experiências e reflexões vão fazer com que Rodemos em Família.
A Roda vai dar mote para a partilha de mitos e os mitos convidam ao reconhecimento de valores e princípios. O natural e o social encaixam em equipa e as famílias pagãs ganham com esta complementaridade.
A Roda em Família leva-nos a criar uma tradição familiar que se baseará nas actividades, histórias e memórias construídas à volta da família com as crianças no centro. Os passeios com os pais, as conchas apanhadas na praia, o alecrim a alfazema atrás da porta, a lenda da lua e do sol, cada um destes elementos fará parte da história da família. O próprio desenvolvimento das crianças em jovens pode ser acompanhado pelo espólio de narrativas mitológicas presentes em todos os cantos do mundo que variam em tema e complexidade. Para cada valor, regra de conduta e princípio social, há (no mínimo) uma lenda pagã apropriada.
Para cada dúvida, anseio, e temor gerados num micro cosmos pessoal, há (no mínimo) um exemplo que vive e existe no macro cosmos universal que nos pode responder e guiar.
Alguém disse "se tens uma dúvida, pergunta a uma árvore", e com o tempo tenho vindo a reconhecer o quão legítima é esta ideia.
Rodar em Família, para mim, é garantir que estamos todos ligados ao ritmo da Criação. É celebrar com a minha filha a vida que ela tem e da qual fui criadora. É observar com ela as mudanças em mim, nela, e à nossa volta. É aprender com ela os padrões da natureza, o esquema das coisas, o balanço entre ordem e caos. É saber que os lego's têm que ser arrumados senão os pais vão descobrir onde eles ficaram com os pés. É dar graças à comida feita com carinho e vê-a a ser comida com apetite (e pão...o que ela gosta de pão). É dançar com ela e ver o sol à janela. É cantar-lhe sobre elementos, a lua, a mãe e o pai. É ensinar-lhe que somos desta terra e estamos ligados nos três planos: à nossa família presente, aos nossos ancestrais no passado, e ao que seremos juntos no futuro
De actividades de colo, vamos passar  actividades de pé, a correr e a saltar. E nessa altura, o encanto da natureza vai manter-se para o explorarmos com curiosidade e alegria e cada vez mais autonomia. Assim vamos Rodar com e na Família, numa dança continua de amor e aprendizagem.


Mais sobre

Partilhar o caminho espiritual com crianças:
https://www.patheos.com/blogs/paganfamilies/2015/07/sharing-our-spiritual-path-with-our-children-part-1-of-4/

Cântico em português:
https://www.youtube.com/watch?v=_yA8NgQV50w

Mitos e lendas:
http://mitologiaparacriancas.blogspot.com/

http://www.sigghil.com/index.html?fbclid=IwAR1df3ucW0oDyyykRjznByvdl-nWkl0s2g2owHqKPFs552Y75SZ3W1RJdL0

http://www.templodeavalon.com/modules/mastop_publish/?tac=Os_Contos_Celtas

https://mitologiahhm.weebly.com/mitos-noacuterdicos.html

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