Hoje vamos experimentar uma receita deliciosa, fácil e leve.
Começamos com uma rápida contemplação à nossa cozinha para constatar que foi adquirida demasiada fruta para o consumo que é feito neste lar, muito devido aos irresistíveis morangos e pêssegos que apanharam o nosso nariz e encontraram rapidamente espaço no nosso saco de compras. E ainda descobrimos uma laranja reservada para uma experiência de óleos essenciais caseiros que acabou por ser substituída, à última hora, por um limão (que já ameaçava passar para o lado bolorento da força).
O passo seguinte é reunir as frutas que passaram a segundo plano depois da última ida às compras: 3 maçãs e 4 pêras.
De seguida, procedemos ao descasque e corte das ditas em pedaços filetados rústicos dispondo-os numa panela com água. Hum... Podemos aproveitar a casca daquela laranja e juntar a cozedura desta fruta toda, para lhe dar um toque diferente... Talvez corra bem... Nunca fizemos uma tarte destas, mas já que estamos a aproveitar fruta sem destino decretado, mais vale. Confiança. Onde está o descascador?
Depois, damo-nos conta que se calhar aquela quarta pêra é demais, e que mais vale ficar assim 3 por 3. Deixamos a quarta pêra ao lado da laranja descascada, ainda sem ideia sobre o que vamos fazer com a laranja despida e já a repensar a cena toda do aproveitamento da casca.
Escolhemos recalcar as dúvidas e avançamos com coragem para a parte onde a fruta já ferve com a casca de laranja e acrescentamos 3 colheres de açúcar de coco. Bolas. Cheira demasiado a laranja... As dúvidas retornam em força e reavaliamos amargamente a decisão de termos juntado a casca da laranja à fruta que ferve no fogão. Até porque a laranja despida olha-nos acusadoramente e a cozinha torna-se pequena para aquela tensão toda.
Já com notas de pânico, decidimos fazer uma salada de fruta com a a pêra a mais e a laranja descascada, e acrescentamos 1 banana, 3 morangos e 1 pêssego. Rapidamente colocamos esta ideia numa taça e acrescentamos água para que o aspecto não denuncie o quão irreflectido foi o curso das nossas decisões até chegar a este ponto.
Entretanto, a fruta cozida só cheira a laranja e decidimos que é melhor pescar a casca da laranja na fervedura. Fazêmo-lo bem e queimamo-nos também no processo, mas o remorso aplaca o queixume. Assumimos que a vida tem que continuar e que as escolhas que foram tomadas não poder ser alteradas agora. Tiramos 3 folhas de gelatina e misturamos um pouco de água morna antes de agitar tudo e levar ao micro-ondas por 30 segundos. Durante esta rápida sequência, questionamo-nos se alguma vez usamos gelatina transparente antes... não temos registo de memória disponível... e ainda assim, sabíamos o que fazer com ela. Concluímos que os desígnios divinos são insondáveis e misturamos a gelatina já em estado líquido na fruta.
Avançamos para a massa folhada....
Começamos por tirar o rolo de massa folhada fresca comprada no minipreço.
Próximo passo.
Espalhamos a massa numa forma redonda baixa (haverá pessoas que chamem a isto uma assadeira, mas nós somos pessoas de pensamento divergente que sabemos melhor). Com perspicácia, colocamos, entre a massa e a forma, o papel vegetal que enrolava a massa na embalagem porque, com todo este festival de experiências, não queremos arriscar mais as leis de Murphy.
Ligamos o forno no máximo com ventoinha e olhamos mais uma vez para a salada de fruta que originou do pânico de uma serie de movimentos impulsivos. É uma boa altura para a colocar no frigorífico.
Depois de calcarmos docemente a massa fresca na forma (em cima do papel vegetal), vamos contemplar a fruta que ferve no fogão, confirmando que ainda cheira bastante a laranja e consideramos se deveríamos despejar o conteúdo da panela para dentro da forma. Uma voz diz-nos que isso só vai ensopar a massa folhada, e nós vamos ouvir esta voz com MUITA ATENÇÃO!
Desta forma, vamos filtrar a fruta num passador e não vamos reflectir sobre o facto de a gelatina provavelmente ter sido um acrescento inútil uma vez que vamos só aproveitar a fruta...adiante!
Depois de espalharmos a fruta pela forma, apercebemo-nos que aquela pêra a mais tinha dado jeito, mas para afastar o remorso, vamos calcando a fruta e distribuindo-a de uma forma mais homogénea até uma corzinha estar presente um pouco em todo o diâmetro da forma.
Com algum contentamento pelo projecto inicial estar com um ar convincente, colocamos a forma no forno e rodamos 15 minutos a 200º.
Olhamos à volta absorvendo a loiça que temos para lavar e voltamos a questionar o sentido da nossa vida.
Remetemo-nos para a nossa condição humana e mortal e vamos lavar a loiça.
Entretanto, vamos espreitando o forno e com algum deslumbramento, vamos reconhecendo que, de facto, o que fizemos se parece mesmo com uma tarte.
Com renovada esperança na humanidade, e nas decisões que tomamos na nossa vida, vamos reunindo as cascas da fruta e somos novamente assolados pela espectro da acusação: não vamos aproveitar as cascas... Decidimos que merecemos provar a salada de fruta e distrair-nos desse falhanço.
Não está má.
E sente-se bem a laranja.
O forno apita e nós vamos retirar a tarte de pêra e maçã colocando-a numa base na bancada...e contemplar o sucesso. Aspecto e cheiro, tem.
A medo, vamos cortar uma fatia pequenina, naquela só do ir arrefecendo para provar.
Mas lembramo-nos de que os americanos comem tarte quente e consideramos que não deve ser mau. Provamos.
Sucesso!!!!!
Não sabe muito a laranja!
Viram como é fácil?!
Super recomendo!
Acompanhem-me na próxima aventura da cozinha que deve estar para breve porque aquelas bananas... não estão a ficar muito maduras?
*a foto foi tirada no fim da crónica e as repetidas provas que foram feitas só para ver mesmo se ficou bom, são notáveis. Continua a não saber muito a laranja. Orgulho.
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