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Tradições e Caminhos



Do pessoal para o colectivo, muitos de nós temos práticas e ideias próprias sobre o que fazemos e como dialogamos com o mundo à nossa volta. Enquanto Pagã, este diálogo é pautado pela relação com os ciclos naturais e como a construo no dia a dia. Pequenas coisas que procuro e que me fazem feliz, como saber que estou a saborear fruta da época, acompanhar a mudança da lua, ver o sol a pôr-se com a minha filha ao colo, ver os gatos a dormir ao sol, aconchegar a menina na cama com as mantas da nossa família.. Cada um destes gestos tem uma sabedoria de raiz, que eu procuro honrar e nutrir-me com.
E assim é também com as minhas práticas rituais, onde imbuo cada movimento, cada palavra, cada intenção, de tudo o que sou e me faz presente. Na verdade, é nessas alturas em que me sinto do tamanho do universo, ao mesmo tempo que a presença do divino me faz sentir um átomo num organismo vivo chamado Criação.
Eu enquadro as minhas práticas num trabalho de Templo, e é verdade que tenho o privilégio de ter quem me acompanhe, se dedique e celebre comigo. 
A Tradição a que sou devota é a da Suméria, com Inanna (sempre Inanna).
A tradição Suméria é originária da região hoje conhecida como Iraque e Kuwait, a terra entre os rios Tigre e Eufrates. Em termos históricos, a civilização Suméria apresenta indícios que datam a pelo menos 4500 anos AEC, ou seja, há 6500 anos que temos registos desta cultura de cabeças pretas (assim se denominavam os sumérios) localizada no Crescente Fértil da Mesopotâmia.
E hoje, em Portugal, na ponta ocidental da Europa, temos um Templo dedicado aos Anunna (família divina a que pertenciam os Deuses) da Suméria. 
A Suméria identificava duas estações ao longo do seu ciclo das colheitas: a estação das chuvas e a estação da seca.
Portugal é abençoado com quatro estações que variam de intensidade mas que na prática identificam uma antecâmara sazonal para cada uma das estações mais rigorosas: a Primavera antes do Verão e o Outono antes do Inverno. Esta dinâmica permite ver a fluidez dos ciclos ao ritmo das mudanças nos ventos, no calor, no frio, na humidade, na secura, nas chuvas... E temos um país de beleza incomparável onde cada uma destas características se vai manifestar.
Sou sempre convidada a reflectir sobre esta relação entre a terra e o culto.
Os Anunna nasceram na Mesopotâmia e eu presto-lhes culto na ocidental Lusitânia.
Os Anunna foram honrados na Suméria, e nós erguemos-Lhes um Templo na Ibéria.
Não sinto conflito. Não sinto confusão.
Sinto que trabalho acompanhada e que no tempo sem tempo e no espaço sem espaço que é o rito, todas as distâncias se anulam, todas as eras se tornam a mesma no aqui e agora.
Paralelamente a este fenómeno, acontece que a terra debaixo dos meus pés e o céu acima de mim, cantam de uma forma única e constante, que me lembra que pertenço a gerações anteriores que se alimentaram, viveram e repousaram sob este solo. E assim, canta nas minhas veias esse cântico telúrico que me sintoniza com as quatro estações lusitanas. E eu honro-o. E honro os meus antepassados com ele. 
E enquanto o meu corpo me faz celebrar esta terra, e o meu espírito me faz celebrar nos céus intemporais, o caminho que faço vai construindo uma tradição única, e eu com os pés no ocidente e a cabeça a oriente, danço perante as mesmas forças sabendo que a Criação é una ainda que os nomes seja infinitos.


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