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Gataria



Gatos em casa. 
Para ser precisa, dois gatos em casa.
Ainda não têm um ano.
Apanhei-os na rua, pouco depois do Equinócio de Outono.
A vós me confesso: sou gatólica. Vivo com gatos desde sempre, mas ir estudar para fora, fez com que interrompesse essa minha vivência familiar. E eu, como resultado, ressacava gatos. Ressacava detectando gatos à distância. Ressacava sonhando com gatos durante noites a fio. Ressacava aproveitando T.O.D.A a oportunidade que tinha de estar com um felino na mão. Anos nisto. 
Quando finalmente encontrei a relação certa e a casa certa para ter gatos, e o universo se alinhou para que uma amiga pedisse adopções para uma ninhada, nós, eu e ele, fomos conhecer os bichanos na perspectiva de adoptar um. Escolhemos dois. O Stevie e a Nicks. (sim, Fleetwood Mac. Tusk, no particular). Marcámos um dia, depois das férias de Verão, para irmos buscar os dois que ainda eram pequeninos. Preparámos a casa, o material, e eu em êxtase, finalmente, Gatos em casa! A minha vida estava completa. O dia em que acabámos as férias e começávamos uma nova vida em família tinha chegado e eu só tinha uma última coisa para fazer. Que fiz. De manhã. E de manhã fui ter com ele para lhe dizer: vamos ter um bebé.
...
Alegria, pânico e gratidão.
....

-Vamos ter de ligar à Maria para lhe dizer que já não vamos buscar os gatos.
- ...Sim.. pode ser que dê para os ir buscar mais tarde...

Claro que havia um teste pelo meio que desaconselhava brutalmente ou não a exposição a uma vida doméstica com gatos (que eu falhei....20 anos de vida com gatos e não sou imune àquela treta). Mas entretanto a vida deu-se com uma mudança de casa a 47 km de distância e um abençoado nascimento com 40 semanas e três dias. E deu-se a plenitude da existência. Tudo encaixado até não cabermos mais na nossa bolha perfeita. E os sonhos noites a fio voltaram. Gatos ao colo, gatos a correr, gatos a dormir. A família estava completa e a minha moldura familiar mental insistia que faltavam patas e bigodes em casa.
Vivendo numa terra pequenina, eu esperava a ocasião certa para recolher a eventualidade de um gato à procura de casa. Quase todos os gatos da minha infância tinham-nos chegado nessa condição. E assim, eu esperei.
E ouvi, num domingo ao almoço, um miado desalmado inconfundível. E saí de casa, corri o bairro, e encontrei os dois gatos bebés que procurava.
O Zappa e a Tina entraram em casa tímidos e com sede. Tinham três semanas. Hoje estão grandes e lustrosos. E dormem como lhes compete. Ou aterrorizam as decorações de inverno. 
O que me faltava perceber, é que a minha ânsia de ter gatos não se tornou mais forte porque me faltava um gato na família, mas sim, que me faltava ver o sorriso e a alegria pura na minha filha quando contemplou os gatos pela primeira vez. Aí, eu percebi. Faltava dar-lhe esta peça de infância feliz, a ela.
Penso nesta descoberta algumas vezes. Sobretudo quando eles se lembram de fazer sprints pela casa enquanto a menina dorme, ou quando trepam até ao varão antes de nós chegarmos perto para os exorcizar  dos cortinados.

Parvalhões.


1 comentário:

  1. Esta gatólica agradece reconhecidamente este magnífico texto e a lembrança das emoções que a existência de gataria na nossa vida propicia. Avé Zappa e Tina

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