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A minha amiga da Venda Nova


Uma das pessoas que mais me influenciou na minha entrada na vida adulta, foi esta pessoa.
Eu alugava um quarto sozinha, pela primeira vez, e trabalhava numa empresa de babysitting e eventos.
Aquela casa foi o meu porto seguro e a primeira casa onde quis criar raízes e memórias felizes. Foi num movimento continuo, o sair de uma relação e entrar naquela casa como pessoa autónoma que se conseguia sustentar. Lembro-me de dar graças às pequenas coisas que tinha conquistado: ter um sítio para dormir, a minha privacidade, tinha um passe que me permitia locomover por toda a cidade, tinha comida e roupa que me mantinha quente, seca e confortável. Rezava esta lista em muitas viagens de autocarro que fazia para e do trabalho.
Nesta casa, fui muito , mas mesmo muito, feliz.
E quando senti que não podia pedir mais nada ao universo, eis que chega esta moça, de sorriso fácil e olhos claros, que entra na casa e vai ocupar para sempre um lugar no sofá da minha vida.
Conhecemo-nos porque ela, com o seu diploma em enfermagem acabado de sair, tinha vindo para a cidade à procura de trabalho, que tinha encontrado, naquela rua onde eu morava, e assim, por um amigo muito especial, fomos postas em contacto e eu apaixonei me por aquela pessoa linda assim que a vi. Pensei para mim "que boa pessoa para partilhar casa", mas nem previa o quanto de verdade tinha esta antevisão.
Tornámo-nos cúmplices muito rapidamente. Na cozinha, nas compras, nas horas na companhia do Heitor e da Natália (dois sofás de padrão que faziam pandan com os cortinados da nossa sala), nas horas a preparar o Halloween no meio das decorações e dos doces. Horas de riso de ventilador ligado enquanto víamos youtube, terapia com o Luca naquele episódio do Game of Thrones, bolos e tostas com a Suzete.
Falávamos de Religião, de bolos com recheio e histórias. Eu adorava as partilhas que fazia da casa dela e tenho para mim que a mãe dela é uma pessoa maravilhosa meio mulher meio fada da terra, para quem nada de desperdiça e tudo pode e deve ser devolvido à terra, porque é nossa para cuidar. Nunca a conheci mas ensinou-me muito, e olhando para a filha, o ser humano que criou, diria que a ensinou muito bem também. Eu ser Pagã nunca foi um problema para ela, enquanto Cristã. Encontrávamos no meio das nossas crenças para debater e desconstruir. Ela fez-me acreditar no diálogo inter-religioso quotidiano porque o fez possível comigo.
Eram tempos tão felizes.
Éramos confidentes dos nossos dramas e mesmo quando juntei mais um à festa, fomos inseparáveis.
Tudo era uma aventura, em especial quando levávamos o carrinho ao supermercado ou varríamos o centro comercial à procura de óculos de sol.
Por todo o carinho que lhe tenho, só se entende que tenha deixado este santuário seguro quando encontrei o homem da minha vida e pela primeira vez me mudei para viver com ele. Nessa mudança, um novo ciclo de vida instalou-se e tudo se desenrolou para eu hoje tivesse a minha filha de 8 meses, dois gatos e uma casa feliz.
Mas por tudo o que foi e representou, aquele laço com a minha amiga, por mais tempo que passe sem nos vermos, o seu lugar na minha vida vai ser sempre num sofá com padrão com um balde de pipocas ao colo, o ventilador ligado e aquele sorriso luminoso.





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