Parenting Tots - Revisão


Este foi o primeiro livro que encontrei quando me pus a pesquisar a temática e assim de cabeça posso adiantar que o índice se apresenta confuso, bem intencionado mas confuso, na edição e/ou paginação.
Outra confissão vos faço, esperava um livro maior, com mais páginas (são 55 páginas de sucinto assunto escrito em inglês).
Relativamente ao conteúdo, a autora passa por todos os tópicos, ainda que nos forneça orientações pouco elaboradas. A experiência desta mãe pagã é de facto extraordinária e inspiradora (o seu livro anterior de seu nome "Pagan Parenting in the NICU" leva-nos para a experiência em primeira mão de vivências com crianças que partilharam casa com uma unidade de terapia intensiva neo-natal).
Este é um livro sóbrio que nos dá uma boa ideia do espectro de elementos possíveis de vivências pagãs com crianças. Reforço que as particularidades biográficas da autora geram bons pontos de reflexão para a construção de uma visão de parentalidade pagã.
Li muito e rápido...e precisei de começar outro livro porque me soube a pouco. Mais do que uma leitura, pareceu-me uma conversa com alguém com uma experiência riquíssima que eu ouvi atentamente (não se interrompe quem sabe tanto) mas que se esgotou entre uma meia de leite e um queque.


O que as Mães leêm


Nova rubrica aqui na casa! A ideia é fazer review a livros de parentalidade pagã e outros de orientação pedagógica dentro do Paganismo.
Graças à mãe espírita e ao marido ateu, esta mãe pagã tem na sua biblioteca alguns exemplares que se focam no nosso tema central (todos em inglês). Não conheço muita gente que tenha lido livros sobre parentalidade pagã, por isso, tenho para mim que estas reviews que vão dar umas leituras e partilhas muito interessantes.

Ora vejamos o que temos no menu:

Witchy Mamma - Magickal Traditions, Motherly Insights & Sacred Knowledge, por Melanie Marquis e Emily A. Francis

Circle Round - Raising Children in Goddess Traditions, por Starhawk, Diane Baker e Anne Hill

Celebrating the Great Mother, por Cait Johnson e Maura D. Shaw

Parenting Pagan Tots, por Janet Callahan

Witch in the Kitchen, por Cait Johnson



...me aguardem ;)

Altares em casa: histórias e desafios.


Primeira crónica da Primavera (entretanto com celebração de Equinócio, Akitu Sumério e 10 meses de coração e fraldas cheios), e quero agradecer à Filipa Urbano (administradora do Coven da Lua e do Sol) que lançou a reflexão desta temática inevitável em casa de qualquer bruxa: cadê o meu altar?
Muitos e muitas de nós descobrem o Paganismo e a Bruxaria algures na adolescência ou na transição para o posto de adulto. Nestas circunstâncias, a norma é, nessa fase de vida, termos um espaço nosso, com relativa privacidade, onde nos apressamos a experimentar círculos, rituais e magia. Ou seja, para muitos de nós, a prática começa no nosso quarto, no primeiro universo pessoal que controlamos.
Uma das necessidades mais naturais de se explorar quando entramos neste caminho é o de erigir um altar nosso, pela nossa mão e vontade.  Varremos, entretanto, imagens na internet e nos livros (hábito que nos vai acompanhar no futuro) com altares, decorações e disposições de rito.
Lemos sobre o assunto, perguntamos a quem partilha connosco o caminho, e vamos experimentando os elementos com os quais compomos esse projecto magnifico que é um acto mágico por si só. Os nossos altares, regra geral, vão mudando com o tempo. Vão acompanhando os nossos gostos, as nossas sensibilidades, as nossas aprendizagens, os nossos interesses e descobertas pessoais e espirituais. Posso dizer-vos que o meu primeiro altar fixo era o maior que consegui arranjar na altura (uma secretária comprida de madeira com gavetas) e nele eu punha..TUDO.
Agora lembro-me do aspecto e rio. Sei que tinha a sorte de ter, na altura, um escritório só usado por mim, onde ano após ano rodava e celebrava os ciclos e a magia de forma solitária. Não era incomodada (mais um luxo). Esses anos adolescentes foram pivotais na minha experiência no Paganismo. Quando saí do secundário vivi 4 anos numa casa com um quarto que partilhava com outra pessoa. Não montei altar nessa casa e essa quebra foi difícil (para mim o meu altar ficou no meu escritório). E agora em retrospectiva essa circunstância pode ter-me disposto a trabalhar em grupo em vez de solitária, o que aconteceu até 2010. Nesse ano, mudei de casa e pela primeira vez voltei a ter altar no meu espaço doméstico! Tinha-o no corredor, confesso, mas porque vivi sozinha nesses abençoados 9 meses. Depois desse período feliz, mudei de casa novamente e voltei a ficar órfã de altar em casa. Mais uma vez investi em trabalho associativo e com o grupo que na altura tinha à disposição. Depois de um ano entrei, finalmente, na casa que seria o meu lar (só tinha lar na minha terrinha, esta realização foi inédita) durante 4 anos. Aí, o meu altar instalou-se na minha mesa de cabeceira onde fomos os dois muito felizes, e onde retomei a minha prática solitária pela primeira vez, em paralelo com a de grupo. Nesses 4 anos conheci e dediquei-me a Inanna. E depois algo extraordinário aconteceu e eu pela primeira vez encontrei alguém com quis viver e mudei-me malas e altar, para o bairro que seria a nossa casa durante quase 2 anos. Aí, também pela primeira vez, o meu altar solitário deixou de ser suficiente. Lembro-me de ter percebido isso, com uma sensação de não encaixar como encaixava. As minhas práticas solitárias também me deixavam esse sabor na boca e questionei-me sobre o motivo por de trás. Pensei que, como a minha realidade tinha transitado de solteira para casal, o meu altar, como espelho da minha alma, precisava de reflectir esta nova vida. Pensei no quão desafiante era estar a viver em casal com alguém que não é pagão, alguém que nunca tinha tido nem um altar nem uma bruxa em casa. Foram reflexões e conversas que ia tendo comigo própria sobre o quão queria descobrir a forma de harmonizar tudo o que compunha a minha vida na altura. Depois de algumas experiências descobri que ter dois altares me permitia conciliar com algum conforto a egrégora da minha casa nova. Tinha um altar só meu, com a minha Senhora, e tinha um altar doméstico que continha elementos importantes para mim e para ele (que foi alinhando na proposta e acredito que hoje já seja uma parte natural da sua/nossa casa). Quando eu digo que um altar é um projecto mágico, estou a falar do exercício emotivo e focado do acto de escolher elementos que nos toquem, que evoquem sensações poderosas de felicidade e completude, inspiração e união, e de os reunir num espaço circunscrito, que vamos mantendo e carregando com as memórias que despertam e com novos elementos que adicionemos. Este é o projecto mágico que faz sentido ter no centro de um lar. Desta forma, ambos usamos e usufruímos do ato mágico, reconhecendo importância e o valor do que estamos a evocar com os elementos que dispomos.
Quando engravidei mudámos novamente de casa e agora temos dois factores que alteram tudo: a bebé e a gataria.
O altar da casa está agora no corredor, decorado com fotos da nossa família (a que vive deste e a que está no outro lado) e ao longo do ano as mudanças dão-se com a decoração com flores, incenso, abóboras, velas, o caldeiro no chão e as eventuais oferendas na altura de Samhain. Este formato de facto funciona. Para nós o mais sagrado é a família e o tom central do nosso altar partilhado é o da união.
De momento, nem gatos nem filhota implicam muito com o altar da casa (uns porque não encontram comida lá em cima, outra porque não anda ainda....). Sei, sabemos, que vai chegar o dia em que o altar vai ter de se tornar mais baby friendly, o que eu considero ser um investimento numa arca com fecho onde possa guardar das mãos pequeninas tudo o que possa ser usado contra elas. Imagino que a altura do Samhain vá ser a de mais cuidados e alerta, mas vou pondo-vos ao corrente nestas aprendizagens que se avizinham.
Mas e o meu altar pessoal?...pois...bebé em casa... o meu último desafio. Quando viemos as duas da maternidade o nosso quarto tornou-se ainda mais nosso e durante alguns meses todo (mas TODO) o espaço disponível era usado para arrumar e encaixar coisas da menina ou para a menina, ou que já não cabiam na menina. O meu roupeiro tornou-se o nosso roupeiro e entre as minhas camisas vivem vestidos dela. Muito do meu material de altar foi arrumado em caixas dentro do dito roupeiro e hoje ainda lá descansa boa parte dele. O meu altar pessoal foi levado para cima de uma cómoda mas a gataria já nos provou que quanto mais alto está o material, mais barulho faz quando o mandam ao chão (o susto às 3 da manhã quando fizeram oferendas voar pelo quarto todo). Portanto, de momento, estou a desenhar a próxima mudança do altar pessoal. Tem que ser à prova de gatos e bebés. Tem que estar perto de mim (até agora, o altar na minha cabeceira foi o que mais gostei de ter), e tem que reflectir a minha vida e circunstâncias actuais: simples, com os elementos essenciais e o resto sou eu que trabalho. Nada de decorações elaboradas (deixo essas para o altar de casa enquanto posso), e os instrumentos guardam-se depois de usados que os parvalhões não dão tréguas quando se põem a fazer sprints pela casa. Aliás, para quem não tem gatos em casa (não há altitude segura destes meninos), montar e manter o altar deve ser mais fácil (confesso que invejo um pouco essa liberdade), mas a nossa casa é esta e é esta a nossa família.
Pela minha experiência pessoal, o altar é um projecto poderoso e que aconselho a todos os que o possam criar. Sempre que precisei de trabalhar ritos ou magia, a comunicação com as pessoas em casa (sejam conjugues ou roomies), é essencial e algumas práticas são mais fáceis na solidão da casa (como limpezas energéticas e purificações). O altar da casa tem outro poder acrescido, o de permitir que a sacralidade e a magia percorram cada canto da casa impregnando-a com essa sensação de protecção e familiaridade. De facto, quando comecei a formar família (ainda antes da menina nascer), a minha intuição sensibilizou-me para o poder da magia de um trabalho doméstico (como um altar) que beneficia de forma natural uma casa que vibra à volta do valor e do projecto da união. Hoje quando olho para o nosso altar partilhado é isso mesmo que sinto. Se qualquer outra pessoa que o veja vai saber do que se trata? Depende do que saiba sobre nós antes de entrar na nossa casa. Para um olho distraído, trata-se de uma mesa, no corredor, com fotos no topo e uma caixa com uns incensos e um peluche tigre em cima. Para os mais atentos, há um caldeiro aos pés da mesa. Por estar num local de passagem e fora da vista da sala, provavelmente não se dá muito por ele. Mas se o altar não der a dica da bruxa que mora cá em casa, pode ser que a vassoura pendurada atrás da porta, cheia de ervas lavanda e alecrim, sirva de pista (ui o que esta vassoura sofre nas patas dos gatos...).
Acredito que o Paganismo nos sirva a nós e que nada nos obriga ou julga nas escolhas que fazemos com os recursos que temos quando a vontade é a melhor. E porque sei que este tema é caro em especial às pessoas que partilham casa, tanto com familiares (seja no estatuto de filhos ou de pais), como com companheiros de casa, posso afirmar com segurança, que o que for feito com empenho e amor, com empenho e amor será retribuído.